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O Dinossauro - Ordem Livre

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A TRAIÇÃO DOS CLÉRIGOS<br />

Num de seus mais importantes e famosos diálogos, Platão apresenta a figura do<br />

sofista. Foi aliás graças a essa obra, o Protágoras, que o termo sofista adquiriu suas<br />

conotações pejorativas. Na época de Sócrates, o sofista era simplesmente o mestre de<br />

retórica e a retórica a arte da política, eis que apenas pela manifestação oral se governa a<br />

polis. O sofista era um "esperto" e "experto" profissional que ensinava os jovens da<br />

aristocracia a fazerem carreira de estadista, de modo que poderíamos, estritamente,<br />

compará-lo a um professor de ciência política de nossos dias. A raiz do termo é sophia, a<br />

sabedoria, podendo então ser o sofista considerado um professor de filosofia. Contudo, por<br />

força da ardente crítica socrática, o sofista é hoje, conforme definido nos dicionários, a<br />

pessoa que usa sofismas em sua argumentação, o intelectual irresponsável que emprega a<br />

lógica de maneira pérfida, "ideológica", com o intuito de induzir em erro. "Sofismar=<br />

enganar, lograr com sofismas, deturpar o sentido das sentenças, argumentar<br />

especiosamente". Certa parcela do significado positivo se mantêm, porém, no adjetivo<br />

sofisticado — que sugere a ideia de algo afetado, pouco natural ou artificial, mas também<br />

refinado, experimentado pela vida e desprovido de vulgaridade plebeia.<br />

O sofista representa, no fundo, o intelectual que utiliza a sua inteligência para fazer<br />

carreira. Para alcançar o poder. Protágoras tornou-se o protótipo do charlatão, do demagogo<br />

da inteligência, do indivíduo vivo e finório, mas fundamentalmente desonesto, que corteja<br />

os condutores da massa ignara, interessado apenas em usar o brilho de sua palavra ou de sua<br />

pena para impressionar, e assim conseguir vantagens pessoais. Sua motivação não é moral.<br />

É oriunda exclusivamente da Libido dominandi e disputandi. Em vez da procura autêntica<br />

da verdade em seu sentido filosófico criador, ele se rende à volúpia de exibir-se —<br />

colocando na ribalta da opinião pública seu saber, sua erudição, seu poder estético de<br />

manobrar conceitos, suas teses desprovidas de profundidade e novidade, mas eficientes pela<br />

forma fascinante com que são apresentadas. Para usarmos as categorias kierkegaardianas, o<br />

sofista se distinguiria do filósofo como o estético se distingue do ético...<br />

Em certo sentido, toda a obra de Sócrates objetivando a criação da filosofia moral<br />

constitui um longo conflito contra os sofistas. O sofista representaria — é ainda a Platão<br />

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