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O Dinossauro - Ordem Livre

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tyrannos (a sexualidade, o egoísmo, o ciúme, a inveja, o ressentimento vingativo e o amorpróprio)<br />

na exaltação emotiva que deixa a psique à mercê da desordem dos instintos.<br />

Superbia et Concupiscencia!<br />

A inteligência humana foi concebida pelos Racionalistas como algo parecido ao<br />

mecanismo de um relógio, um autômato talvez um pouco mais complicado do que os que<br />

faziam a admiração maníaca do século barroco (algo que prenuncia o nosso atual assombro<br />

com os computadores). Acreditavam ser possível deduzir os "movimentos" da mente pela<br />

aplicação do tipo de leis que determinam o funcionamento de uma simples máquina, pois a<br />

psique de fato, na medida em que pensa num processo puramente lógico e analítico,<br />

compartilha da mesma causalidade estrita e da mesma irreversível necessidade imposta a<br />

um aparelho feito de rodas, roldanas, correntes, eixos, alavancas e manivelas. Seria essa a<br />

crença de Hobbes, por exemplo. Os Românticos, ao contrário, identificavam a alma a uma<br />

planta ou a uma flor pois, impressionados com os crescimentos espontâneos e irregulares da<br />

Mãe Natureza, tendiam poeticamente a abraçar um ponto de vista vitalístico, orgânico e<br />

estético. Contemplando a alma como um ser amado, não tentavam disciplinar-lhe os<br />

arroubos ou comandar-lhe a expressão. Divorciavam-se de ambos. Afastavam-se do Centro<br />

Divino em que se sustenta a ordem da alma. E como no Fausto de Goethe,<br />

Cedo, receio,<br />

Romper-se-á a união.*<br />

Pascal, ao prevenir que "le coeur a ses raisons que la raison ne connait poini"<br />

parece ter sido um dos primeiros a diagnosticar seriamente essa discórdia íntima quando<br />

apontou, com olhos críticos, para os riscos ocultos detrás da exagerada ênfase na Geometria<br />

cartesiana: Descartes inutil et incertain... Não deixa de ser significativo que o Catolicismo<br />

francês, conhecedor ainda de santos admiráveis como Francisco de Salles e Vicente de<br />

Paula no ardente renascimento do misticismo e da caridade ocorrido durante o reinado de<br />

Luís XIII, sofreu com sua intelectualização cada vez mais pronunciada na época de Luís<br />

XIV. Pascal compreendeu muito bem que "aqueles que estão acostumados a raciocinar de<br />

acordo com princípios, nada entendem das coisas dos sentimentos". Prevenia também<br />

contra dois exageros: "exclure la raison, n'admettre que la raison". Sem dúvida, parte da<br />

angústia existencial do filósofo, ao contemplar os "abismos" com que se defronta a alma<br />

humana, decorre de uma intensa convicção quanto ao âmbito limitado da Razão, caniço<br />

* Bald Löst, ich fürcht/Sich der Verein. (parte II, ato III)<br />

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