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O Dinossauro - Ordem Livre

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suficientes da nacionalidade.<br />

Ora, o desenvolvimento, como é notório, não diminui as tensões, exacerba-as. A<br />

crença de que, meramente através da expansão industrial, iria o Brasil reforçar a sua própria<br />

segurança, consolidar as suas instituições políticas e garantir a solução das tensões sociais<br />

foi totalmente ilusória. Foi o fracasso de 64. Os problemas mais graves do país não se<br />

encontram, hoje, nas suas regiões mais atrasadas, mas nas mais adiantadas. Os handicaps<br />

do Nordeste, da Amazônia e do Centro-Oeste são conhecidos: eles serão superados<br />

naturalmente pelo próprio ímpeto desenvolvimentista. Os problemas do Sul e do Leste, ao<br />

contrário, são de crescente complexidade e de solução desconhecida.<br />

O mal, quero crer, reside numa falta de entendimento do fator político, desse<br />

misterioso elemento de sabedoria política sem o qual tanto a segurança quanto o próprio<br />

desenvolvimento podem conduzir, como conduziram, a um impasse. Podemos acrescentar<br />

que outras nações, nossas vizinhas, foram vítimas do mesmo erro de avaliação, em pior. A<br />

Argentina, que há uns cinquenta anos era um dos países relativamente mais desenvolvidos<br />

do mundo, e se vangloria de abundantíssimos recursos naturais, de um alto nível de cultura<br />

e de instrução pública avançada, graças a uma população relativamente homogênea e sem<br />

grandes contrastes econômicos e tensões sociais, chegou ao triste estado em que se encontra<br />

simplesmente por incompetência política. O problema crucial, em suma, é político. É um<br />

problema de sabedoria de governo por parte das elites dirigentes.<br />

O processo de abertura que conduziu à Nova República tornou flagrante o fato de<br />

que a problemática institucional brasileira — que perdura, em última análise, desde a<br />

fundação da República — não foi resolvida, mas apenas deixada de lado. Adiada. A fina<br />

intuição política que norteou admiravelmente o processo de redemocratização do país, sem<br />

qualquer choque violento, tornou ao mesmo tempo patente que o sistema de simples<br />

improvisação está chegando ao ponto de exaustão. Corremos o risco de voltarmos ao marco<br />

da partida, com a perspectiva sempre possível de uma repetição da triste e lastimável<br />

história de nossa vida institucional entre 1930 e 1964: três constituições, duas ditaduras, três<br />

revoluções, quatro golpes militares. O fato lamentável, aliás apontado entre outros pelo<br />

senador Roberto Campos, é que todos os presidentes da República daquele período, sem<br />

exceção, ou foram precedidos por um golpe de estado que lhes assegurou a posse, ou<br />

tiveram o seu mandato terminado com outro golpe de estado. Positivamente, sem o recurso<br />

excepcional à ação moderadora das Forças Armadas, o processo institucional brasileiro é<br />

defeituoso e nada nos garante que o defeito tenha sido corrigido. Permito-me citar<br />

Shakespeare outra vez (noHamlet):<br />

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