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O Dinossauro - Ordem Livre

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Estamos chegando ao fim de nossa disquisição e nos desculpamos perante o leitor<br />

por muitas repetições e divagações: elas em parte se justificam pela necessidade de insistir<br />

sobre certos pontos levantados que nos parecem da maior relevância. O momento é chegado<br />

de alcançarmos algumas conclusões mais cartesianamente claras e precisas.<br />

Nosso argumento se desenvolveu a partir da análise de uma dialética do<br />

Racionalismo e do Romantismo. Essa dialética ainda é para nós pertinente. No Brasil, foi<br />

dela que nascemos — do Renascimento à Idade das Luzes, através da Contra-Reforma; e<br />

ainda nela estamos vivendo em virtude da síndrome do "eterno barroco". O Estado<br />

brasileiro é forte (ainda que dinossauricamente ineficiente) porque, na Europa, foi na época<br />

barroca que se iniciou o monstruoso crescimento do Estado burocrático moderno.<br />

Ora, o Liberalismo, similarmente engendrado na Idade das Luzes, representa em<br />

certo sentido uma doutrina meramente negativa: ele nada propõe como fórmula de se<br />

construir uma sociedade, salvo que defende a liberdade dos indivíduos de se associarem e<br />

de empreenderem conforme sua livre e espontânea vontade, garantindo-se mutuamente a<br />

segurança. Historicamente, surgiu o Liberalismo na Europa de um desenvolvimento<br />

específico do regime feudal (conclusão que, em certo sentido, também pode ser aplicada ao<br />

Japão). Foi nos países onde mais fortemente se organizou uma sociedade feudal, no final da<br />

Idade Média, que os primeiros sinais de uma concepção da liberdade e autonomia moral do<br />

indivíduo, consciente de seus direitos como homem, se fizeram sentir. A Magna Carta de<br />

1215, na Inglaterra, é um dos marcos fundamentais da luta histórica pela liberdade. Mas<br />

constitui um pacto feudal dos barões em revolta contra o rei. Desde o início da evolução do<br />

pensamento político no Ocidente, se manifesta assim essa tendência invariável da<br />

aristocracia de se erguer contra o poder excessivo do Estado centralizador e contra o<br />

arbítrio real. Inversamente, destaca-se também, desde o princípio, a tendência do monarca<br />

de procurar o apoio das massas populares e reforçar o alcance do Estado burocrático para<br />

resistir aos reclamos, primeiro da aristocracia e, em seguida, da alta burguesia.<br />

Por que foi na Inglaterra e, subsequentemente, nos Estados Unidos da América que<br />

prosperaram as ideias liberais? Porque, protegida por seu isolamento insular de ameaças<br />

estrangeiras concretas, sentia-se o Reino Unido menos inclinado a enfatizar as<br />

considerações de segurança nacional e a promover o reforço do poder central. Na França,<br />

ao contrário, foi o feudalismo sendo lentamente corroído pelo poder monárquico, sediado<br />

na Ile de France, cujo propósito constante era a unificação e defesa do país. Unificada, não<br />

somente podia a França melhor resistir a ameaças externas, ativas sobre quatro fronteiras<br />

distintas, mas projetar-se dominantemente sobre toda a Europa.<br />

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