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O Dinossauro - Ordem Livre

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Deduziu-se daí uma declaração brutal e escandalosa da crueldade, satanismo e imoralidade<br />

da política de poder, vícios que se tornaram associados ao nome do brilhante pensador<br />

florentino.<br />

Hobbes ofereceu uma base mais teórica para a estrutura do "corpo artificial" que<br />

constitui o Estado maquiavélico e da "alma artificial" que é a Soberania nacional. Vale<br />

relembrar como partiu para sua célebre versão do Contrato Social. O arrazoado é o<br />

seguinte: no estado de natureza vigora uma liberdade total. Mas essa liberdade, por ser o<br />

homem um ente agressivo e cruel, é a da luta ou da guerra de todos contra todos (bellum<br />

omnium contra omnes). Hobbes parece conjurar Heráclito. Ora, "a força e a fraude são, na<br />

guerra, as duas virtudes cardeais". No estado primário, o homem é o lobo de si próprio, é<br />

um animal, uma besta desencadeada para o estupro, o roubo, a violência e o assassínio. Eis<br />

aí proclamado o famoso aforismo homo hominis lupus. Aforismo oriundo de Plauto (na<br />

Asinaria) que transforma o povo num animal feroz, necessitante de uma ordem repressiva.<br />

Vale citar Hobbes por extenso no seu Leviatã (1651): "Para todos os homens, os<br />

outros homens são concorrentes. São todos ávidos de poder sob todas as formas. Ora, se<br />

consideramos as coisas em seu conjunto, todo homem é igual a um outro... Igualdade de<br />

capacidade que dá a cada um a esperança de alcançar seus fins e o impulsiona a esforçar-se<br />

por destruir ou subjugar o outro. Concorrência, desconfiança recíproca, avidez de glória ou<br />

de reputação trazem como resultado a guerra perpétua de todos contra todos... O homem é o<br />

lobo do homem (homo hominis lupus). Uma tal guerra impede toda indústria, toda<br />

agricultura, toda navegação, todo conforto, toda ciência, toda literatura, toda sociedade e,<br />

pior que tudo, engendra o temor aos perigos contínuos de morte violenta. A vida é solitária,<br />

pobre, grosseira, estúpida e curta. Numa tal guerra, nada é injusto, nem o pode ser... não há<br />

propriedade, não há teu e meu distintos, só pertencendo a cada um aquilo que pode tomar e<br />

pelo tempo que o pode guardar. Eis a miserável condição em que a simples natureza coloca<br />

o homem. Eis o estado de natureza.''<br />

Existe, entretanto, uma outra paixão, uma só, que seria possivelmente mais<br />

poderosa que o orgulho de poder, o impulso do desejo e o instinto carnívoro: essa paixão é<br />

o medo irrefragável do summum malum que é a morte. O medo seria o aspecto negativo,<br />

compensatório e antitético da paixão de poder dominante no homem. Se a vida deve ser<br />

concebida como a expressão do instinto de autopreservação através do uso do poder, então<br />

a lei psicológica das compensações requer, necessariamente, uma tal sinistra convicção e<br />

não nos devemos espantar de ler, nas declarações autobiográficas deixadas por Hobbes, que<br />

sua mãe, no momento do parto prematuro, "dera à luz dois gêmeos, eu próprio e o pavor"...<br />

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