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O Dinossauro - Ordem Livre

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muita agitação, debates, às vezes uma confusão generalizada.<br />

A combinação do desejo de se dar ares de importância com a relutância em tomar<br />

decisões, em seu próprio nível, tem como consequência a pressão tremenda exercida no<br />

sentido de empurrar todos os expedientes para cima, para os ministros de Estado e para o<br />

presidente da República. O ministro Passarinho, quando tomou posse no Ministério da<br />

Educação, descobriu que nada menos de 77 pessoas despachavam diretamente com o<br />

ministro: "Napoleão, que era um gênio, despachava apenas com sete. Mas a diretora do<br />

Museu Villa-Lobos também não abria mão de seus direitos: só despachava com o ministro".<br />

O ministro também descobriu que devia assinar até os aceites para que um material escolar<br />

fosse desembarcado no porto. Se não assinasse, a Universidade responderia pelos custos. O<br />

que tudo isso quer dizer é que os trâmites que sofre um expediente na máquina burocrática<br />

e a sorte que lhe é reservada nos escalões da hierarquia não dependem de sua importância<br />

intrínseca, mas são determinados pelo prestígio relativo do funcionário que dele fica<br />

encarregado. Se se trata de um abacaxi, o expediente é imediatamente expelido. Se não vale<br />

para realçar a importância do funcionário, é engavetado. Mas se pode servir para "despacho<br />

com o ministro", então é imediatamente aureolado de um conteúdo místico. Em relação à<br />

parte, o que vale é o futebol: o burocrata inteligente é aquele que sabe driblar o interessado.<br />

Pelé é sempre promovido...<br />

Para defender o status dos altos funcionários, a burocracia criou uma série de<br />

intermediários, o principal dos quais é o "chefe de gabinete". A função desse é<br />

essencialmente a do cão Cérbero: barrar a entrada. Sobretudo aos chatos. Ai daquele que<br />

não possa colocar com suficiente ênfase e força de convicção, para penetrar no augusto<br />

recinto, a clássica pergunta: "O senhor sabe com quem está falando?"... Uma outra classe de<br />

intermediários é o despachante. Trata-se de um prodígio biológico: o parasita dos parasitas.<br />

Quando não se pode recorrer a esse espécime burocrático, há que utilizar uma das técnicas<br />

especiais de penetração na burocracia. O funcionalismo criou o que já foi chamado "a<br />

indústria de dificuldades para vender facilidades". Contra essa indústria, o recurso é o jeito.<br />

O trêfego e vivo Macunaíma, manhoso e cheio de velhacarias, aparece com seu saco de<br />

surpresas que sugerem a saída com uma brilhante sugestão salvadora. Toda a técnica<br />

pegajosa e açucarada do Eros é então utilizada para impô-la à situação, sobrepujando o<br />

obstáculo. A relação pessoal que se estabelece entre o funcionário e a parte sobrepõe-se ao<br />

dispositivo legal ou à inércia burocrática. Eros vence Anankê, a necessidade. É o jeitinho...<br />

O húngaro Peter Kellemen, em seu divertido livrinho Brasil para principiantes,<br />

conta-nos a sua primeira experiência com autoridades brasileiras e com a nossa noção<br />

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