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O Dinossauro - Ordem Livre

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tecnoburocracia mexicana que não faz por menos...<br />

O ponto interessante que nos desperta a análise de Paz, de uma perspectiva<br />

comparativa, é o contraste entre o ocorrido no México desde 1910 e o desenvolvimento<br />

político do Brasil a partir de 1930. No México, a revolução deu inicialmente o poder a uma<br />

série de generais que se disputaram a presidência pela força — Huerta, Obregon, Cárdenas,<br />

Avila Camacho, às vezes com a assistência de figuras mais próximas do banditismo do que<br />

da disputa política, como Pancho Villa. Mas, a partir de 1940, o poder passou á ser<br />

controlado pela burocracia — que reina até hoje. No Brasil, ao contrário, a experiência<br />

getuliana cindiu a "classe dominante" patrimonialista e social-estatizante em uma<br />

"esquerda" e uma "direita". A esquerda foi para o PTB, o sindicalismo e a nova classe de<br />

pelegos da mente. A direita para a UDN e os militares de linha dura de 1964 a 1969. O<br />

resultado é que dois regimes sensivelmente parecidos foram impostos às duas nações,<br />

legitimados por pseudo-ideologias opostas: no México, o ministro da Justiça do PRI podia<br />

impunemente ordenar a matança de estudantes baderneiros e ainda emergir gloriosamente<br />

como presidente e governar como expressão de um regime supostamente esquerdista (e,<br />

inclusive, ambicionar o recebimento do Prêmio Nobel da Paz!) — enquanto, no Brasil, a<br />

repressão sob o AI-5 era acoimada de "direitista", "fascista", "reacionária" etc. Jean Meyer<br />

(em Technocrates en uniforme), citado por Paz, analisou essa distinção característica entre<br />

burocracia política e burocracia militar, estamentos que têm pretendido encabeçar a<br />

modernização nos países em desenvolvimento. Contudo, o problema político central do<br />

momento continua a ser, a meu ver, o da centralização burocrática num Estado de<br />

autoridade patrimonialista tradicional, se pretendendo "moderno" e vulnerável ao<br />

messianismo populista. O problema, em suma, do autoritarismo paternalista contra a<br />

liberdade individual do cidadão responsável. É esse problema que está sendo<br />

inextricavelmente confundido pelas falsas simplificações ideológicas que criaram a<br />

dicotomia de esquerda e direita.<br />

Por isso, completando o que nos diz Octávio Paz, podemos sugerir que o terceiro<br />

aspecto da conjuntura mexicana que mais impressiona é o ideológico. O nacionalsocialismo<br />

mexicano possui uma irracionalidade característica. Sendo uma sociedade<br />

eminentemente conservadora, como testemunham aliás Samuel Ramos e Octávio Paz —<br />

criou uma formidável superestrutura ideológica revolucionária e esquerdista que serve para<br />

legitimar o despotismo da classe burocrática. Dir-se-ia que a aliança entre o poder temporal<br />

e o poder espiritual, proposto pela igreja da Contra-Reforma, se metamorfoseou na "religião<br />

civil" da presente conjuntura leiga. Ao contrário do Brasil, não existe um dissídio, um<br />

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