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O Dinossauro - Ordem Livre

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empreendida pelo marxismo ortodoxo no Brasil, corresponde a um dos fenômenos mais<br />

infecundos dentre os que já tiveram lugar na evolução de nosso pensamento. Enquanto<br />

persistem vários temas cuja elucidação exige argúcia e capacidade de questionar, a<br />

mencionada tendência ocupa-se de produzir simplificações que não conduzem a nada"...<br />

Paim chega à conclusão de que "a compreensão da realidade do patrimonialismo lusobrasileiro,<br />

de sua longa e persistente história, é uma conquista das mais significativas da<br />

nova maneira de encarar o processo político brasileiro. Marca o início do longo caminho a<br />

percorrer para nos livrarmos dos esquemas simplificatórios, de inspiração marxistapositivista".<br />

O problema da estrutura originariamente patrimonialista de nosso país, no<br />

relacionamento com suas origens em Portugal, foi exaustivamente estudado por Raimundo<br />

Faoro, nos dois grossos tomos de Os donos do poder. Ao examinar a formação do patronato<br />

político brasileiro, adverte Faoro que não segue estritamente a linha de pensamento de<br />

Weber. É pena. Mas permanece contudo claro, em seu argumento, que tampouco aceita os<br />

pressupostos marxistas de explicação. Não é a transição do feudalismo para uma sociedade<br />

burguesa capitalista, com a integração da nação como segmento semi-colonial de um<br />

"centro imperialista", vivendo no estágio do Spätkapitalismus, o que lhe chama a atenção.<br />

Faoro talvez procure abrandar ineficazmente a controvérsia com o uso da expressão<br />

"capitalismo de Estado" — que, no meu entender, nada significa a não ser, precisamente, o<br />

"patrimonialismo" de que fala Weber. Aparentemente, Faoro procura conciliar a<br />

controvérsia entre os marxistas — que insistem no caráter capitalista da economia brasileira<br />

da época colonial e na estrutura meramente feudal da organização produtiva nas plantations<br />

de açúcar e café e nos grandes latifúndios de pecuária — e os weberianos que acentuam a<br />

existência de uma classe burocrática poderosa, resultante do vigor tradicional do Estado<br />

português. No meu entender, a noção de "capitalismo de Estado" contribui muito pouco<br />

para esclarecer o debate. O termo mais adequado para a descrição da organização<br />

socioeconômica do Brasil desde a época colonial é o de "patrimonialismo mercantilista".<br />

Esse conceito de patrimonialismo mercantilista nos coloca exatamente no estágio de<br />

desenvolvimento de que estamos tentando emergir nas últimas décadas, com a revolução<br />

industrial iniciada durante a presidência Kubitschek.<br />

Como resultado da discussão sobre a importância relativa do feudalismo ou do<br />

patrimonialismo centralizador nas raízes do Brasil, surge uma certa confusão. O próprio<br />

Faoro declara expressamente que não pretende penetrar mais a fundo na polêmica sobre o<br />

chamado feudalismo brasileiro (p. 130). Ele cita por exemplo Ruy Cirne Lima, para quem a<br />

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