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O Dinossauro - Ordem Livre

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anos. Meu propósito é tentar descrever nossa presente situação psicológica como o<br />

resultado da colisão de emoções apaixonadas, de fonte inconsciente, com a estrutura<br />

altamente racional, sensível e inevitavelmente sofisticada da sociedade industrial. O<br />

coração contra a eficiência cerebrina... A explosão romântica teve o efeito imediato de<br />

libertar, com força devastadora, os instintos que nosso pobre, nosso soberbo e também tolo<br />

intelecto exigiu séculos para controlar.<br />

Cabe assim certo espanto quanto aos motivos por que Jung, como aliás muitos outros<br />

pensadores modernos, não tratou o fenômeno romântico da mesma maneira ríspida com que<br />

julgou o Racionalismo. Como membros da cultura dominante, nórdica e protestante, esses<br />

pensadores parecem menos preocupados com a explosão do pathos romântico. Uma<br />

exceção, talvez, possa ser aberta para muitos alemães que sentiram na pele os resultados<br />

funestos da filosofia idealista de Herder, Fichte, Hegel, Schelling, Marx e seus seguidores<br />

— pensadores que, para a metafísica, carrearam o ímpeto do exagero elucubrativo.<br />

Vale aqui apontar para o estudo que, em sua obra sobre os "Tipos psicológicos",<br />

desenvolveu Jung quanto à distinção postulada por Nietzsche entre o Dionisíaco e o<br />

Apolíneo. Essa dicotomia do filósofo germânico adquiriu uma bem merecida fama, embora<br />

não devamos esquecer que, em sua versão original tal como exposta em O nascimento da<br />

tragédia, os termos de Nietzsche estavam unicamente relacionados com um problema de<br />

valor na área da estética pura. Naquele capítulo ainda, está Jung a preparar o argumento de<br />

seu esquema de duas atitudes e quatro funções da consciência. O Apolíneo e o Dionisíaco<br />

são usados como introdução para seu próprio conceito tipológico. Em outra seção da obra,<br />

Jung critica, além disso, a antítese biográfica de W. Ostwald entre os tipos Clássico e<br />

Romântico. Jung parece associar o arquétipo nietzscheano do Apolíneo ao homem cuja<br />

reação é basicamente reflexiva, elaborando imagens de acordo com o caráter da atividade<br />

intelectual. Corresponderia, grosso modo, ao tipo clássico introvertido de Ostwald. Por<br />

outro lado, a descrição emocional que Nietzsche nos oferece do espírito de Dionísio sugere<br />

uma extraversão violenta de sentimento, juntamente com um elemento de sensação. Jung<br />

considera essa atitude sob o título de Gefühlsempfindungen, o que quer dizer, sentimentosensação.<br />

Está naturalmente fora dos limites deste nosso inquérito discutir o que pretendia<br />

Nietzsche exatamente alcançar com suas noções de Dionisíaco e de Apolíneo. Uma coisa<br />

parece certa: essas categorias originariamente estéticas evoluíram, no decurso da vida do<br />

filósofo, de modo a atingir um "prodígio metafísico" quando ele propôs a conciliação dos<br />

dois deuses — filhos de Zeus, irmãos e inimigos — num plano superior de harmonia dentro<br />

dos sagrados precintos de Delphos. Em minha tentativa de capturar uma imagem aceitável<br />

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