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O Dinossauro - Ordem Livre

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todos três, exaltavam contraditoriamente o Estado e dele se tentavam apossar. Keynes<br />

salvara o capitalismo ao propor a intervenção do governo para prevenir as crises<br />

econômicas cíclicas de depressão e inflação, essas mesmas que haviam contribuído para a<br />

ascensão de Roosevelt nos E.U.A., de Hitler na Alemanha, Mussolini na Itália, MacDonald<br />

na Inglaterra e o Front Populaire em França.<br />

Curiosamente, a liquidação do totalitarismo nazista, na Europa, e a "guerra fria"<br />

contra o totalitarismo soviético não determinaram uma reconsideração do papel do Estado<br />

no Ocidente, mas estimularam seu crescimento. Quarenta anos se passaram e o mundo<br />

ocidental conheceu os "trinta anos gloriosos" do milagre econômico, mas o papel do Estado<br />

nesses eventos não foi contestado. Só a crise provocada pelos árabes petroleiros e o<br />

fenômeno inédito da stagflation teria talvez desencadeado o princípio de contestação ao<br />

Estado. Sugiro também a circunstância do amadurecimento dos antigos estudantes<br />

contestatários que provocaram a rebordosa anárquica da Revolução Cultural dos anos<br />

sessenta: ao atingirem a idade adulta, tornaram-se conservadores mas não esqueceram sua<br />

ojeriza à burocracia estatal. O anarquismo converteu-se num liberalismo mais moderado.<br />

Como acentua J. F. Revel (artigo em Le Point, 5-12-83), o que a nova<br />

sensibilidade liberal rejeita é um Estado que pretenda trazer a felicidade ao conjunto da<br />

sociedade, ao mesmo tempo em que tira-niza cada um dos indivíduos que a compõem.<br />

Revel cita aí Louis Dumont que, em seu "Éssai sur l'individualisme", observa que, sendo o<br />

indivíduo o valor cardeal das sociedades modernas, está também perpetuamente obcecado<br />

por seu contrário, o totalitarismo. Nunca se falou tanto e tanto se respeitaram os direitos do<br />

homem, e nunca foram esses direitos tão maciçamente violados como em nosso século. Os<br />

comunistas e terroristas que mais clamam por tais direitos são também aqueles que, ao<br />

assumir o poder, mais flagrantemente os desacatam. Acrescente-se que a ameaça à<br />

liberdade e identidade do indivíduo tem procedido tanto dos revolucionários de esquerda<br />

quanto dos reacionários de direita. Os católicos conservadores da tradição tridentina<br />

também denunciam o individualismo, confundindo-o com o pecado atribuído ao<br />

liberalismo, ao modernismo e ao protestantismo.<br />

* * *<br />

Em entrevista publicada no suplemento Cultura de O Estado de S. Paulo, de 27 de<br />

janeiro de 1985, sob o título "A ambição liberal é restaurar a ordem", um dos jovens<br />

intelectuais franceses mais ativos, Guy Sorman, tido como "o principal agitador das ideias<br />

liberais na França", define alguns princípios do chamado "neoliberalismo" que atravessa,<br />

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