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O Dinossauro - Ordem Livre

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e eternamente" nesta terra. Hobbes estaria propondo, em suma, uma volta à concepção<br />

teocrática hebraica que implica considerar o messias um líder terreno, de carne e osso.<br />

Quando, em seguida, no capítulo 35, vem a definir o conceito de Igreja, torna-se claramente<br />

inconfundível, como nota Lehman, a identificação que faz entre religião e o culto do<br />

Estado-nacional moderno. Vale novamente citar o trecho relevante da obra de Hobbes:<br />

"...uma Igreja, enquanto capaz de ordenar, de julgar, absolver, condenar ou fazer qualquer<br />

outro ato, é o mesmo que uma república civil, formada por cristãos ... Governo temporal e<br />

governo espiritual não passam de duas palavras trazidas ao mundo para fazer os homens<br />

verem duplo e confundir seus legítimos soberanos... Não existe portanto nenhum outro<br />

governo nem do Estado, nem da religião, senão o temporal". Nesse sentido, assevera<br />

Lehman em seu comentário, "contém o Leviatã e prescreve uma radical secularização do<br />

que até então tinha sido aceito pela teologia cristã". Podemos nós acrescentar que a maior<br />

parte dos comentaristas conservadores da obra de Hobbes salientou as consequências<br />

ominosas desse repúdio ao dualismo das Duas Cidades. A negação da tese agostiniana na<br />

verdade está na origem da substituição do paradigma agostiniano da Civitas Dei pela<br />

Utopia. A Utopia política constitui uma secularização vulgar do modelo transcendente,<br />

paradigma situado "no céu" ou no futuro indeterminado. Doravante, a tensão moral<br />

permanente entre a realidade do poder temporal, na cidade terrena, e o ideal do poder<br />

espiritual na Cidade de Deus se transformará num impulso permanente para alcançar a<br />

Utopia da perfeição de justiça, felicidade e amor através de meios políticos revolucionários.<br />

A Revolução configura a Salvação. A Religião Civil nacional-socialista substitui a religião<br />

cristã.<br />

Lehman finalmente lembra que o termo Theologia Civilis, designando o elo pagão<br />

indissolúvel entre política e religião, ocorre na própria obra de Sto. Agostinho, De Civitate<br />

Dei, com referência crítica à doutrina de Marcus Varro, um autor político do primeiro<br />

século antes de Cristo e famoso patriota erudito. Agostinho tenta ali demonstrar, com todo<br />

vigor, a insensatez de uma religião civil ou a incoerência de uma religião concebida em<br />

função da política, do ponto de vista da teologia cristã. Ora, acontece que esse problema<br />

levantado pelo grande filósofo católico perdura até hoje, eis que a chamada "teologia da<br />

libertação", que fascina largos setores alienados da Igreja brasileira, nada mais é que uma<br />

tentativa medíocre de novamente fundir religião e política, e transformar o paradigma da<br />

Cidade de Deus em um novo modelo de utopia política. Lehman corretamente assevera que<br />

a identificação de política com religião sempre foi a regra desde o início da história<br />

humana, acarretando a sacralização do Estado e o endeusamento do monarca. O<br />

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