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O Dinossauro - Ordem Livre

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Ambos, formidáveis pensadores e profetas, contribuem para a versão do Contrato Social<br />

que cria o Leviatã moderno. Hobbes o faz pela lógica férrea de um edifício de puro e cruel<br />

intelecto, a partir da crença na perversidade original do homem. Rousseau se derrama num<br />

dilúvio de lágrimas de emoção pervertida num argumento incoerente, a partir da proposta<br />

de um homem natural, originariamente bom. Hobbes e Rousseau esculpem as duas faces do<br />

Janus estatal. A Nova Classe é composta, à direita e à esquerda, de burocratas e de<br />

intelectuais. Burocratas que são consciente ou inconscientemente hobbesianos e intelectuais<br />

que se deixam, quase que invariavelmente, sensibilizar por ímpetos idealistas românticos,<br />

na base de conceitos populistas encontradiços na obra de Rousseau. Mas os dois segmentos<br />

da Nova Classe, em permanente tensão, cultivam interesses amplamente solidários em torno<br />

da manutenção do Estado prepotente: a ambição do intelectual é alcançar o poder e se<br />

tornar por sua vez um burocrata, enquanto o esforço permanente do burocrata é conservar o<br />

poder, enfrentando e reprimindo a crítica perene do intelectual ressentido. Dialética<br />

hegeliana do senhor e do escravo...<br />

Os filósofos "radicais" ingleses da primeira metade do século XIX,<br />

particularmente Bentham e John Stuart Mill, bem como o igualitarismo romântico de<br />

homens como Jefferson e Jackson, consolidaram as preferências dos intelectuais de língua<br />

inglesa por um socialismo democrático de esquerda, com matizes tendentes ao<br />

fortalecimento de um Estado de massas. O germe da democracia totalitária do século XX é<br />

por eles plantado. O socialismo igualitário foi considerado "progressista" enquanto os<br />

conservadores, sobretudo no seio da Igreja católica, se levantavam contra a ideia de<br />

liberdade individual. Como acentua Schumpeter, "como uma homenagem suprema mas<br />

involuntária, os inimigos do sistema de empresa privada consideraram aconselhável<br />

apresentar-se com o título de 'liberais' ", para justificar seu social-estatismo.<br />

A concepção de igualdade, perante a lei ou de liberdade sob o império da lei<br />

(freedom under the law) é também um produto da Idade da Razão, herdado da antiguidade<br />

clássica. Spinoza havia acentuado, num aforismo famoso: "é livre todo aquele que vive<br />

unicamente de acordo com os ditados da razão". A noção de isonomia já existia na filosofia<br />

de Aristóteles. Ela se combinou com a nova perspectiva de liberdade de iniciativa<br />

econômica que prospera graças à obra dos economistas ingleses e dos fisiocratas franceses:<br />

"laissez-faire, laissez-passer. Ne pas trop gouverner"... Os pensadores neoconservadores<br />

americanos, os economistas neoliberais ingleses com os da escola austríaca (von Mises, von<br />

Hayek, P. T. Bauer), jovens economistas universitários americanos assim como uns raros<br />

franceses (R. Aron), preparam na década dos 60 e 70 o renascimento poderoso de um<br />

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