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O Dinossauro - Ordem Livre

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poder cerebral. Tudo foi feito para dificultar o processo de adoção — como se o intuito<br />

deliberado do establishment jurídico-policial fosse mesmo reservar para o vasto depósito de<br />

menores abandonados mais um candidato à marginalização.<br />

O pretexto invariável para a criação de dificuldades é a existência de um tráfico de<br />

crianças. Muito bem: esse tráfico existe. Mas será que por causa de um episódio em cem de<br />

aproveitamento ilegal de crianças, em processo de adoção, se deve investigar e perseguir<br />

como criminoso ou mafioso cada bem-aventurado e benemérito estrangeiro que deseja fazer<br />

uma adoção? Em nosso emperrado sistema burocrático, paga o justo pelo pecador. A parte é<br />

antecipadamente considerada com desconfiança: até prova em contrário, supõe-se que<br />

mentiu, que roubou, que sua intenção é perversa. No caso, a criação de dificuldades para<br />

vender facilidades exigiu a presença de Verena durante dois meses e meio nesta terra<br />

selvagem de Pindorama, mesmo porque a Justiça brasileira entra em recesso durante o<br />

Natal. Depois em férias de verão para gozar a praia. Depois, vai brincar de carnaval — 40<br />

dias em que não se pode ser atendido porque o meritíssimo senhor juiz de menores quer<br />

tomar férias e não deseja que o substituto decida por sua conta. A via crucis da senhora<br />

Verena encheu um "processo" com dúzias de documentos, requerimentos, alvarás,<br />

atestados, exames, reconhecimentos de firma, registro em cartório, cópias xerox, despachos,<br />

transcrições, encaminhamentos, provas e contraprovas, etc, etc, etc, tudo como se o heróico<br />

ministro Hélio Beltrão jamais houvesse passado pela Secretaria de Desburocratização. No<br />

final das contas, a adoção custou a dona Verena uns trinta e poucos milhões de cruzeiros<br />

(ou seja, ao câmbio de fevereiro de 1985, cerca de oito mil dólares!), inclusive passagem de<br />

avião, permanência no Brasil, despesas de advogado e administração, com uma gorjetinha<br />

aqui e outra acolá para evitar que a máquina ainda mais se prolongasse ou que uma tranca<br />

fosse perversamente introduzida para arrebentá-la. Isso tudo sem falar na angústia da mãe<br />

adotiva que, já de posse da criança, só mesmo no fim chegou a ter certeza de que o juiz e o<br />

curador consentiriam na adoção e a autoridade policial concederia o passaporte do<br />

pimpolho. Na verdade, o parto burocrático foi, para a mãe adotiva, muito mais longo e<br />

doloroso do que o parto da mãe natural — sem falar no fato de que esta irresponsável<br />

gananciosa se livrou de um peso indesejado, possivelmente com algum lucro... Calculem<br />

só: oito mil dólares, se aplicados a cada uma das crianças nascidas no Brasil este ano,<br />

equivaleriam a 40 bilhões de dólares, o suficiente para resolver várias vezes o problema da<br />

criança abandonada e marginalizada, sua educação de primeiro grau, sua alimentação e sua<br />

saúde. Por aí se pode ter uma ideia da percentagem relativa do investimento efetuado por<br />

Verena em benefício da infância brasileira. Um investimento retribuído de maneira tão<br />

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