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O Dinossauro - Ordem Livre

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para os ímpetos hobbesianos que distinguiram os militares de "linha dura" na década dos<br />

setenta, e para a tentação rousseauniana que hoje atinge o clero dito "progressista".<br />

A introdução das Comunidades Eclesiais de Base; o aparecimento da CNBB como<br />

órgão de mobilização política na Igreja brasileira; as preocupações sociais oriundas do<br />

Concilio Vaticano II; a tradição tridentina de reforço do poder secular que, após o advento<br />

das famosas encíclicas "sociais", tende a colocar-se numa posição social-estatizante e<br />

antiliberal; a criação do PT com o apoio ostensivo da ala "progressista" e a agitação<br />

demagógica de clérigos inquietos do tipo Helder Câmara, frei Beto, Leonardo Boff,<br />

Evaristo Aras e Pedro Casaldáliga, sugerem a possibilidade de muitos padres estarem<br />

cogitando da eventualidade de substituírem os militares como a nova elite, os novos<br />

mentores, os novos Aiatolás da República. A CNBB, órgão espúrio na organização milenar<br />

da Igreja, permite a um grupo de militantes esquerdistas contornar o obstáculo levantado<br />

pelo relacionamento tradicional direto entre o papa e os bispos. Essa entidade comporta-se<br />

hoje, francamente, como um grupo de pressão político, para não dizer subversivo. O<br />

fenômeno ressuscitaria o papel que desempenharam os jesuítas nos dois primeiros séculos<br />

de nossa história — um papel súbita e violen tamente interrompido por Pombal. No<br />

intervalo e salvo alguns casos isolados como o de frei Caneca, a Igreja cuidadosamente<br />

evitou intervir em assuntos de ordem política. Talvez a data marcante da nova tendência de<br />

envolvimento eclesiástico na vida social do país seja o ano de 1954 quando se realizou —<br />

se não me engano — o primeiro grande Congresso Eucarístico no Rio de Janeiro. Naquela<br />

época, diante da desordem reinante nos meios dirigentes do país e da ordem impecável que,<br />

por contraste, fizeram os sacerdotes imperar naquele evento — ouviu-se muita gente<br />

comentar: "agora é a vez dos padres!", "só os padres defendem os pobres e a justiça social",<br />

"só eles saberão governar o Brasil", "por que não se deixa os padres substituírem esses<br />

políticos incompetentes e corruptos?"...<br />

Estou efetivamente convencido da possibilidade de eclosão de um tipo de<br />

liderança populista-clerical semelhante à que levou os clérigos ao poder teocrático no Irã,<br />

sob a chefia carismática do aiatolá Khomeini. Ou no gênero do governo clerical-marxista de<br />

Manágua, com os Descoto e os Cardenal. O Brasil transformar-se-ia numa espécie de<br />

imensa Nicarágua.<br />

O intelectual vira teólogo, o teólogo se converte em agitador populista e a teologia<br />

torna-se praxis revolucionária. Em seu livro Do lugar do pobre (Petrópolis, 1984),<br />

Leonardo Boff propõe a seguinte tese: "O momento decisivo é a ação transformadora<br />

(praxis), o engajamento concreto com os grupos de reflexão-ação. A partir desse<br />

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