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O Dinossauro - Ordem Livre

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autonomizado, é certamente o de transformar-se nesse animal robusto, Leviatã, "essa<br />

serpente escorregadia, serpente tortuosa e dragão que está no mar" (Isaías 27:1) — um<br />

monstro terrível, feito sem medo, ou um redemoinho que devorará o homem, a não ser que<br />

o Senhor, "armado com sua espada dura, grande e forte", o visite e mate.<br />

Os Santos Padres da Igreja sempre reconheceram no Leviatã o seu sentido<br />

etimológico original — a "sociedade dos maus". O império romano, por exemplo, para os<br />

primeiros mártires cristãos. Leviatã é a sociedade do demônio e seus discípulos. Leviatã<br />

tem, portanto, um significado apocalíptico. Hobbes, obviamente, conhecia essa procedência<br />

da palavra. Isso nos deve levar a insistir não seja Hobbes verdadeiramente um apologista<br />

entusiástico do Estado absoluto, como vulgarmente é descrito — mas talvez um realista<br />

dogmático e pessimista que reconhece a essência perversa e demoníaca do poder político.<br />

Ele não seria um Satanista mas apenas estaria explorando aquilo que está profundamente<br />

impregnado no sentimento cristão. O poder é perverso, o poder é corruptor e diabólico. O<br />

Estado, por conseguinte, é mau. E tanto pior quanto mais poderoso. A partir dessa tese de<br />

Hobbes, os pensadores liberais, a começar com Locke, Adam Smith e Montesquieu, iriam<br />

propor a redução do poder do Estado, ou sua descentralização ou divisão em "Três Poderes"<br />

funcionais. Em suma, é nesse sentido que não me parece correto adiantar tenha Hobbes<br />

proposto a ressacralização do Estado, pois algo que é descrito, mesmo por ironia, como um<br />

monstro satânico dificilmente poderia ser santificado ou endeusado.<br />

Com olhos gélidos e lúcidos, percebeu Hobbes a essência do problema político no<br />

mundo moderno em gestação, este nosso mundo ocidental que produziu, ao mesmo tempo,<br />

a monarquia absoluta, a democracia liberal e o nacional-socialismo totalitário. Mais<br />

profundo do que Maquiavel, pressentiu as contradições em que se formava o Estado,<br />

secularizado pela Reforma e pela decadência do poder da Igreja de Roma, e ressacralizado<br />

pela monarquia absoluta. Para o pensador inglês, vivendo emocionalmente os anos das<br />

grandes revoluções inglesas do século XVII, a política é um produto da razão a qual tem<br />

que enfrentar as vorazes paixões do homem. Particularmente, a paixão fundamental, a mais<br />

central, a mais íntima, a mais tirânica, irresistível e englobante: a pleonexia, a libido<br />

dominandi. Esta é o impulso ou instinto, a concupiscência de domínio, a Vontade de Poder<br />

de que, exaltado, falará Nietzsche, que estudará Adler e que angustiará Freud (dando-lhe o<br />

nome de Instinto de Morte) — a agressividade sob todas suas formas; preocupação dos<br />

etólogos e antropólogos; aflição de todos aqueles que contemplam as grandes tragédias da<br />

história contemporânea.<br />

A libido de poder seduz para o pecado de orgulho — superbia, o próprio vício do<br />

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