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O Dinossauro - Ordem Livre

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EMPREGUISMO E A MAMÃEZADA<br />

O <strong>Dinossauro</strong> seria composto, segundo se pode imaginar, de algo como sete ou<br />

oito milhões de cidadãos — 511.000 estatutários na administração direta, um número<br />

indeterminado de contratados em regime de CLT, e 1.300.000 nas empresas públicas e<br />

autarquias. Acrescente-se quatro milhões de servidores nos Estados da federação. E quantos<br />

milhões nos quase cinco mil municípios do país? E mais os professores das escolas públicas<br />

e universidades federais e estaduais, os membros das Forças Armadas (quase meio milhão)<br />

e os contingentes das forças policiais, subordinadas aos estados e aos municípios. A<br />

burocracia brasileira não se conhece a si própria. Como escreve Benedicto Ferri de Barros<br />

(artigos em O Estado de S.Paulo, 1986), uma pesada conspiração do silêncio cerca o<br />

assunto, como na omertà da Máfia siciliana. Foi necessário um recenseamento levado a<br />

efeito pelo DASP em 1965, por iniciativa do então ministro Roberto Campos, para que o<br />

Estado pela primeira vez pudesse descobrir o número aproximado de seus próprios<br />

dependentes. Lembro-me, na época, de haver preenchido uma espécie de formulário de<br />

recenseamento. Hoje, voltou a situação ao mesmo estado de profundo mistério, após as<br />

centenas de milhares de nomeações feitas a nível federal, estadual e municipal, ao<br />

apagarem-se as luzes do regime de 64 e ao se inaugurar, estrepitosamente, a Nova<br />

República velha. Os <strong>Dinossauro</strong>s eram também fisiologicamente mal-organizados: atacados<br />

na cauda, não reagiam porque a excitação nervosa custava a chegar ao cérebro. Ou não<br />

chegava.<br />

Um outro titular do Planejamento declarou ser uma terça parte dos nossos<br />

"funcionários", da administração direta e indireta, ociosa — o que quer dizer, são<br />

"funcionários que não têm função"... Após o recenseamento foi o IBGE encarregado de<br />

fazer uma lista dos cargos públicos, a fim de rever os programas de codificação<br />

organizadas. Foram encontrados títulos dos mais variados — provando que o <strong>Dinossauro</strong><br />

não é, afinal de contas, tão totalmente desprovido de imaginação. Eis alguns exemplos,<br />

escolhidos a esmo, conforme a lista publicada num diário carioca: abastecedor, adjunto de<br />

vara, adutor de líquidos, aerologista balístico, ajudante de capista, alisador de sola de<br />

sapatos, bandolista, bolseiro, balizeiro, brochurista, cacique, carapina, cartagista, chamador,<br />

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