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O Dinossauro - Ordem Livre

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muito menor ênfase os aspectos negativos da herança católica a qual não afetou,<br />

diretamente, a nossa vocação para o desenvolvimento, mas nos teria apenas, por omissão,<br />

privado de uma ética econômica flexível e criadora, de afirmação terrena, como foi a<br />

calvinista, mais favorável ao florescimento da civilização industrial e capitalista moderna.<br />

Prefiro falar em "Espírito do Mediterrâneo" do que em espírito romano. Um espírito ao qual<br />

contribuíram árabes e mouros que ocuparam a península. O Espírito do Mediterrâneo,<br />

erótico, estetizante, imaginativo, antilógico, pela sua combinação ambivalente de um<br />

patriarcalismo autoritário com um fundo convulsivo de anarquismo antinômico e<br />

romântico, explicaria a notória carência de elementos de ordem e liberdade os quais, nos<br />

países de formação protestante, criaram as condições propícias ao pleno desenvolvimento<br />

da democracia.<br />

A França, é bem verdade, não é um país inteiramente latino. O elemento<br />

germânico e, inclusive, protestante, desempenha ali um papel muito mais saliente do que<br />

entre as outras nações da mesma comunidade linguística e religiosa. Entretanto, é<br />

impressionante como os males a que se refere Peyrefitte são universais na área latina. No<br />

capítulo 13 e nos que se lhe seguem imediatamente, uma crítica áspera é empreendida das<br />

motivações de caráter espiritual que prejudicaram o desabrochar entre nós da civilização<br />

moderna, em contraste com o voo das sociedades pragmáticas inspiradas pela Reforma.<br />

Embora um capítulo especial seja dedicado à exceção que confirma a regra — qual seja, a<br />

atual decadência da Grã-Bretanha, sufocada pelo sindicalismo — Peyrefitte parece muito<br />

claramente querer atribuir o atraso relativo das nações mediterrânicas a essa espécie de<br />

rigidez romana, de cunho legalístico, que atinge suas formas de convivência na esfera<br />

pública.<br />

As terceira e quarta partes (capítulos 23 e seguintes) são dedicados a uma<br />

investigação bastante aprofundada do <strong>Dinossauro</strong>, o paquiderme burocrático cujo<br />

imobilismo nefasto e ação deletéria pode ser facilmente observado de Roma a Buenos<br />

Aires, e de Paris a Brasília. É impressionante, na série de anedotas, episódios e incidentes<br />

que agraciam o livro, como o autor percebe, no conjunto de disposições mentais que afetam<br />

o paternalismo hierarquizante e arcaizante de nossas estruturas administrativas, os pontos<br />

de contato que aproximam o mal francês daquele de que sofre o Brasil. Os catalizadores de<br />

uma mentalidade econômica estimulante e progressista são também válidos para nós e<br />

notamos o de quanto os carecemos, salvo talvez em São Paulo. Do mesmo modo como o<br />

faz Vianna Moog, em seu Bandeirantes e Pioneiros, o autor francês compara os símbolos<br />

evangélicos de Marta e Maria — o espírito ativo e o espírito contemplativo — que<br />

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