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O Dinossauro - Ordem Livre

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exata em que estamos oprimidos pela velha Nova Classe burocrática, a qual começou a se<br />

apossar das alavancas de comando muito antes de 1964, muito embora o agravamento do<br />

fenômeno se haja processado mais nitidamente a partir das presidências Médici e Geisel.<br />

Na verdade, o social-estatismo no Brasil é herdado da velha estrutura paternalista<br />

ou patrimonialista, autoritária, mercantilista e clientelista dos tempos de Pombal e da<br />

colônia. É uma paradoxal combinação de nacional-socialismo do século XX e absolutismo<br />

modernizante de fins do século XVIII. As circunstâncias do Brasil ainda estão longe de<br />

corresponderem às dos países avançados da Europa ocidental e América do Norte, onde<br />

redesponta a estrela liberal depois de um século de eclipse. Contrariando as teses do ilustre<br />

senador Fernando Henrique Cardoso, não creio que jamais tenhamos sofrido uma<br />

verdadeira revolução burguesa liberal. Terá chegado o momento? Uma vez que já nos<br />

elevamos pelo take off do desenvolvimento industrial, podemos porventura avançar para o<br />

neoliberalismo sem antes sobrepujar o pesado handicap social do analfabetismot da falta de<br />

saúde, da pobreza rural, da criminalidade, da explosão demográfica? Tais as questões que<br />

merecem ser levantadas no amplo debate. Tocqueville falava no conflito entre os dois<br />

princípios democráticos, o de liberdade e o de igualdade. Foi o segundo que alimentou o<br />

movimento socialista estatizante mas, no mundo ocidental, se impõe novamente o retorno<br />

ao primeiro. À luz dessas considerações, a pergunta que permanece é: que fazer no Brasil?<br />

Nosso país atrasa-se. Como sempre, mentalmente subdesenvolvido. Ainda que<br />

compartilhando do pessimismo de Revel quanto aos perigos mortais que cercam a<br />

democracia ocidental e que ele expõe em sua última obra — sou otimista num outro<br />

sentido. Acredito que a crise de patologia ideológica — melancólica acompanhante da<br />

Nova República — se poderá dissolver à medida que os melhores autores do novo<br />

pensamento ocidental forem sendo traduzidos e lidos. Oxalá isso em breve se manifeste.<br />

Meu propósito é oferecer uma análise das origens filosóficas do social-estatismo, a<br />

partir da dialética do Racionalismo de Hobbes e do Romantismo de Rousseau. A crítica do<br />

<strong>Dinossauro</strong> burocrático será necessariamente seguida de uma tentativa de caracterização do<br />

que tem geralmente sido descrito como a Nova Classe. Quem constitui a velhíssima "Nova<br />

Classe", os intelectuais ou os burocratas? Minha intenção é destacar claramente o papel que<br />

desempenha na sociedade moderna, e de modo particularmente conspícuo na nossa, a<br />

tensão dialética entre esses dois setores da elite da nação, notáveis por seu poder e<br />

influência nos últimos anos.<br />

12<br />

Brasília, outubro de 1986

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