12.04.2013 Views

O Dinossauro - Ordem Livre

O Dinossauro - Ordem Livre

O Dinossauro - Ordem Livre

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

minha expedição pelo interior. Não é nada agradável a gente submeter-se à insolência de<br />

funcionários públicos; mas se submeter aos brasileiros, que são tão desprezíveis no espírito<br />

como miseráveis no corpo, chega a ser intolerável. A perspectiva, porém, de ver uma<br />

floresta que é habitada por belas aves, macacos, preguiças e lagos onde moram jacarés, fará<br />

qualquer naturalista lamber o pó que acaba de ser pisado até mesmo pelo pé de um<br />

brasileiro"... Como explicar esse caráter agressivo da burocracia patrimonialista, num país<br />

que se orgulha de ser tolerante e ambiciona desenvolver-se racional e legalmente, segundo<br />

o modelo democrático?<br />

O Brasil é o país onde o casamento é tão caro e impõe tais exigências que a<br />

maioria da população (mais de 50% segundo o IBGE) abstém-se da formalidade. Exige-se,<br />

entretanto, certidão de estado civil para obter título de eleitor. Por quê? Este próprio autor,<br />

quando solteiro e ansioso por contrair justas núpcias, teve a experiência de solicitar<br />

Dispensa de Proclamas a fim de mais rapidamente poder embarcar e assumir o posto para o<br />

qual fora nomeado pelo Excelentíssimo Senhor Presidente da República — e soube<br />

finalmente das proclamas dispensadas pelo Meritíssimo Senhor Juiz uma semana depois de<br />

casado...<br />

Em Bauru ocorreu certa vez que uma menina, chamada Denise, não podia ir para a<br />

escola porque fora registrada, ao nascer, como Dionísio: engano de cartório. Devendo ser<br />

menino quando, na realidade, era menina, as escolas locais se recusavam a aceitá-la,<br />

alegando erro de identidade. Isso quando a lei reconhece o direito à educação pública a toda<br />

criança, independentemente de sexo. Conheci um cidadão que se chama Wangner.<br />

Estranhando o sobrenome, perguntei-lhe certa vez se sua família era de origem alemã.<br />

Explicou-me que não: seu pai, amante de música romântica, lhe havia escolhido o nome de<br />

Wagner, mas o funcionário boçal do Registro Civil enganou-se e escreveu Wangner, e<br />

assim meu amigo passou a carregar, pelo resto da vida, o patronímico peculiar. Um outro<br />

exemplo divertido dessa interferência abusiva de amanuenses ignorantes e prepotentes com<br />

um dos patrimônios mais sagrados da pessoa humana — o próprio nome — pode ser<br />

registado em São Paulo onde descobri dois nisseis, filhos de japoneses, o primeiro, um<br />

homem, cujo nome Akira foi corrigido para Akiro, e a segunda, uma mulher cujo nome,<br />

Emiko, foi corrigido para Emika. Akiro e Emika, em japonês, nada significam. Em<br />

português tampouco. Se realmente todo feminino tivesse que terminar em a e todo<br />

masculino em o, então deveríamos dizer a mapa, a programa, a esquema, o canção, o<br />

constituição, o informação, etc. A estupidez burocrática pode ser aquilatada por essa<br />

flagrante violação de um dos mais fundamentais e legítimos direitos humanos, o dos pais<br />

166

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!