12.04.2013 Views

O Dinossauro - Ordem Livre

O Dinossauro - Ordem Livre

O Dinossauro - Ordem Livre

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

salientada, como devendo aumentar à medida que progride a passagem do socialismo para o<br />

comunismo. Eventualmente, o computador substituiria o burocrata...<br />

Francês interessado em problemas de burocracia e sindicalismo, tendo vivido<br />

muitos anos nos Estados Unidos e membro, com Samuel Huntington e J. Watanuki, da<br />

Conferência Trilateral que tamanha ira há alguns anos causou aos círculos de esquerda<br />

nacionalista, Michel Crozier insiste, em sua obra já citada O fenômeno burocrático, que<br />

esse fenômeno contra o qual nos revoltamos "nada mais é que o legado paralisante do<br />

passado". Contrariando de certo modo a crença de Weber, para quem a burocracia seria<br />

uma fatalidade do desenvolvimento da humanidade civilizada no sentido de uma maior<br />

racionalidade, Crozier vê a questão numa perspectiva que se assemelha à nossa própria,<br />

brasileira: a crise que ameaça a sociedade é antes de tudo a crise de um modelo econômico<br />

e político profundamente marcado pelo velho burocratismo. O sociólogo francês inicia a<br />

sua obra observando que, da mesma forma como em 1960 "era indispensável recusar a<br />

ilusão humanitária, liberal ou socialista, de acordo com a qual o bem e o progresso podiam<br />

constituir valores absolutos, valores que era suficiente articular e afirmar corretamente —<br />

parece-nos agora urgente desmistificar o sonho revolucionário e a prática esquerdista,<br />

segundo os quais o encadeamento catastrófico das contradições impõe a reversão total. Na<br />

verdade, parece-nos reconhecer alguma coisa em comum nessas duas atitudes, contudo tão<br />

contraditórias: a ignorância das limitações, a incapacidade para compreender a realidade<br />

das cargas humanas, e uma visão terrivelmente simplista do determinismo".<br />

A maior parte do livro de 450 páginas é ocupado com uma análise cerrada dos<br />

problemas centrais de poder na gênese do fenômeno burocrático. A rotina, as estruturas<br />

paralisantes, os estímulos frustrados, a hierarquia e a disciplina que provocam rebeldia, os<br />

mecanismos inelutáveis de conflito entre colegas e entre inferiores e dirigentes, as<br />

estratégias dos indivíduos e dos grupos para contornar as dificuldades constituem o corpo<br />

do trabalho. Crozier aborda os inúmeros problemas humanos que são gerados no empenho<br />

de obter mais racionalidade, mais eficiência, maior produtividade no serviço público e nas<br />

grandes organizações privadas. Mas acrescentemos às "lúgubres" meditações do apocalipse<br />

burocrático que a problemática é fortemente afetada, conforme o próprio Crozier confessa,<br />

pelo temperamento ou "caráter nacional" dos povos considerados na análise do fenômeno.<br />

É evidente que há povos — e estou pensando, por exemplo, nos suíços! — que são por<br />

natureza sóbrios, trabalhadores, esplinéticos, conservadores, "chatos", "caxias" e amantes<br />

da rotina.<br />

São ronds-de-cuir inatos. Sua adaptação ao ritualismo, à fria racionalidade e ao<br />

277

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!