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O Dinossauro - Ordem Livre

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evolução da juventude, no estilo de 1968. O conceito de que a gente está com a razão pelo<br />

simples fato de ser jovem na idade é, sem dúvida, ridículo para qualquer jovem que, como<br />

eu, espera haver amadurecido na provecta idade da razão de setenta anos... Mas mesmo<br />

depois de nos sentirmos satisfeitos com uma interpretação psicanalítica (o que já foi feito),<br />

seu complexo materno peculiar (complexo que é bem sensível, muito embora haja perdido a<br />

mãe ao nascer) ainda merece exame sob critérios diferentes de apreciação — como exemplo<br />

clamoroso da discórdia de uma belle âme que não é dirigida pelos princípios ordenadores<br />

do Logos. Acentuam-se, então, a fuga constante às rêveries; devaneios nostálgicos de um<br />

passeador solitário; excursões ao seio da natureza, cujas belezas eternas jamais se cansaria<br />

de exaltar com encanto sincero (seu romance, La nouvelle Héloise, configura um idílio<br />

rural); devoção à botânica e aos jardins ingleses (que de longe preferia à geometria formal<br />

dos chamados "jardins franceses"); bem como súbitas inspirações que oferecem indicações<br />

suplementares para o poder que a natureza exercia sobre suas propensões afetivas.<br />

Devemos, entretanto, salientar a existência de um outro aspecto na mentalidade de<br />

Rousseau. Além da ascendência e autonomia dos sentimentos, esse componente explicaria o<br />

entusiasmo extraordinário causado por suas ideias, no período revolucionário: o<br />

utopianismo. Sendo escravo de uma fértil imaginação cujos produtos sempre levou muito a<br />

sério — o que constitui outro erro fatal dos românticos! — confessou, com toda a candura,<br />

preferir a submissão aos êxtases do sonho e o abandono às asas da fantasia, do que sofrer<br />

por força da reflexão e se atolar na realidade do quotidiano. Como o poeta que cantava:<br />

"voe, voe, pássaro, a mente humana não pode tolerar a realidade"... Parece haver acreditado<br />

que todas as suas construções filosóficas se desenvolveram a partir de uma única<br />

iluminação arrebatadora e delirante quando, aos 37 anos de idade, uma "voz do sentimento<br />

interior" o chamou de repente, durante um sublime quarto de hora no bosque de Vincennes.<br />

Corria o ano de 1749. Acabara de ler o anúncio da Academia de Dijon sobre a questão de<br />

saber-se se o restabelecimento das ciências e das artes havia ou não contribuído para o<br />

aperfeiçoamento da moral: "À l'instant de cette lecture, je vis un autre univers, et je devins<br />

un autre homme". "Todas as minhas pequenas paixões foram apagadas por um entusiasmo<br />

pela verdade, a liberdade e a virtude", acrescentou. O ensaio que escreveu, em resposta à<br />

Academia, recebeu um prêmio e marcou o início de seu sucesso literário. Confessou, mais<br />

tarde, a Malesherbes que, se jamais algo se pareceu com uma súbita inspiração, foi a<br />

emoção que o dominou ao pensar sobre o assunto: "De súbito me senti ofuscado por mil<br />

luzes; uma torrente de ideias fez pressão sobre mim com tal força que fui lançado em uma<br />

tormenta indescritível".<br />

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