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O Dinossauro - Ordem Livre

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desfazer os mitos, expurgar as falácias e liquidar com a magia como técnica apropriada à<br />

solução dos grandes problemas sociais e políticos. É o que chama de Entzauberung der<br />

Welt. O que quer dizer o processo de "desencantamento", desmitificação ou desmistificação<br />

do mundo, que equipara ao próprio progresso cultural. Em meu livro Psicologia do<br />

subdesenvolvimento, de 1972, tive oportunidade de me estender longamente no estudo das<br />

conotações weberianas em nossa situação, procurando aquilatar em que medida a<br />

inexistência de condições éticas, semelhantes às vigorantes nas nações calvinistas, pode<br />

haver exercido um efeito negativo ou desestimulante sobre nosso desenvolvimento. A<br />

presente seção constitui, de fato, uma reedição de parte do que tive ocasião de debater<br />

naquele livro, publicado pela editora APEC em pleno apogeu do chamado "milagre<br />

brasileiro". Em obra posterior, pretendo explorar com mais cuidado os aspectos éticos, de<br />

justiça, liberdade e eficiência, relacionados com o desenvolvimento capitalista.<br />

Contra um socialismo que se quer científico mas que reduz todos os fatores<br />

religiosos, morais, culturais e espirituais numa sociedade a meras "superestruturas" das<br />

condições materiais de produção, criou Weber um impacto irreversível sobre as ciências<br />

sociais ao restaurar a importância do papel do homem, de sua psicologia, de sua moral e de<br />

sua religião no quadro de explicações respeitáveis. Cabe notar que Weber não pretendia, de<br />

modo algum, contra-atacar o marxismo e seus preconceitos materialistas. Ele achava que<br />

seu método devia ser considerado uma simples preparação para a pesquisa. Considerava<br />

que a interpretação unilateral devia ser deixada "ao tipo de diletante que acredita na unidade<br />

da mentalidade de grupo e na sua redutibilidade a uma única fórmula''.<br />

As teses da Sociologia da Religião de Weber têm sido criticadas e comentadas de<br />

várias maneiras. Seu sistema constitui a última tentativa de conceber a sociedade em termos<br />

positivistas. Essa é sua grandeza e, ao mesmo tempo, sua limitação. Hoje, procuramos<br />

transcender o racionalismo positivista. No entanto, como ainda nós, brasileiros, não<br />

atingimos esse estágio de visão exaltada, somos obrigados a ele recorrer para explicar os<br />

motivos de nosso atraso em relação aos povos da Europa nórdica e às nações da América do<br />

Norte que foram colonizadas por Protestantes. Fundamentalmente, se aceitamos as teses de<br />

Weber, concluiremos que a ética protestante ou, mais exatamente, a ética do "ascetismo<br />

intra-mundano" determinou condições de seriedade de comportamento, de disciplina<br />

profissional, de honestidade comercial, de trabalho eficiente, de severa poupança, de<br />

administração metódica e racionalidade nas empresas, de capacidade de se governarem a si<br />

próprios e, sobretudo, de admirável "boa consciência'' na acumulação de riquezas — que<br />

explicariam suficientemente o sucesso alcançado por esses povos os quais, repito, ainda<br />

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