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O Dinossauro - Ordem Livre

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ele chama a "ética de pura convicção" e a "ética da responsabilidade". A dialética entre<br />

ambas funciona do seguinte modo: a primeira, Gesinnungsethik, absoluta, a segunda,<br />

Verantwortungsethik, contingente. A primeira é ultramundana e não reconhece que as<br />

consequências imprevisíveis de uma ação se encontram em relação paradoxal com as<br />

intenções. Ela representa uma ética do caráter, uma ética de "fins últimos" que não admitem<br />

exceções e, como tal, representam uma máxima que está em oposição fundamental e<br />

irredutível com a outra. Criticando seu amigo F. W. Förster, Weber acentua que a "ética da<br />

responsabilidade'' aceita a ambiguidade moral do mundo e está consciente que do bem não<br />

resulta, necessariamente e sempre, o bem; nem tampouco que do mal sempre resulta o mal.<br />

Ela exige o compromisso, a negociação, o conhecimento exato do que é possível. Estaria<br />

assim eminentemente relacionada com a política — sendo a política, segundo a célebre<br />

definição bismarckiana, "a arte do possível"...<br />

Weber já se preocupava com a situação de anarquia revolucionária em que<br />

mergulhava a Alemanha após a derrota. Essa situação, agravada pela grande inflação, o<br />

desemprego e as tentativas de golpe promovidas pelos comunistas spartakistas, ia ter como<br />

consequência, dada a fraqueza da República de Weimar, o surgimento catastrófico do<br />

movimento hitlerista. Em sua conferência, Weber considerava o papel que, para a salvação<br />

da Alemanha, deveriam desempenhar as duas classes líderes: os intelectuais, depositários da<br />

Kultur germânica, e os burocratas, herdeiros do Império wilhelmino. Sabemos que a<br />

história não confirmou as esperanças do sociólogo: os intelectuais se deixaram seduzir pela<br />

ideologia racista e os burocratas se tornaram os instrumentos dóceis do Estado prussiano<br />

agressivo. As vocações de ambos se espatifaram no escolho da ideologia.<br />

O sociólogo escreve que o homem que acredita na ética da responsabilidade "leva<br />

em consideração, precisamente, as deficiências normais do povo; e, como Fichte<br />

corretamente afirmou, não tem mesmo o direito de pressupor sua bondade e sua perfeição.<br />

Não se sente na posição de sobrecarregar os outros com os resultados de suas próprias<br />

ações, na medida em que foi capaz de prevê-las"... Aquele que acredita numa ética de fins<br />

últimos ao contrário, "se sente responsável apenas em assegurar que a chama das intenções<br />

puras não seja jamais apagada: por exemplo, a chama do protesto contra a injustiça da<br />

ordem social. Reacender essa chama sempre de novo é o propósito de seus atos bastante<br />

irracionais, conforme sejam julgados tendo em vista seu sucesso possível. São atos que<br />

podem e devem ter somente um valor exemplar". Acrescenta Weber que a ética dos fins<br />

últimos ou da pura convicção aparentemente se arrebentará diante do problema da<br />

justificação dos meios pelos fins. "Na verdade, tem logicamente apenas a possibilidade de<br />

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