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O Dinossauro - Ordem Livre

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simplicidade mental contra a impostura". De qualquer forma, não aceitaríamos ser<br />

acoimados de simplórios mentais...<br />

Aconteceu então a crise do petróleo. Depois de haverem durante anos esbravejado<br />

contra as "injustiças da ordem econômica internacional" e reclamado, inclusive sob<br />

inspiração e liderança dos bravos economistas do Itamaraty, contra a famosa "deterioração<br />

das relações de troca", alguns países do Terceiro Mundo, que dispunham desse produto<br />

primário, resolveram aumentar drasticamente os preços do apreciadíssimo ouro negro. A<br />

"nova ordem econômica internacional" que assim surgia nos caiu pesadamente na cabeça:<br />

os dois choques do petróleo de 1974 e 1979 elevaram os preços do barril importado para<br />

acima de trinta dólares. Setenta bilhões de dólares foi o que nos custaram, em doze anos, as<br />

importações do precioso "ouro negro", para gáudio dos xeques das Arábias, generais<br />

levantinos e o Xá-in-Xá da Pérsia. Setenta bilhões de dólares é mais da metade da dívida<br />

externa brasileira: os petrodólares dos árabes e os euro-dólares, acumulados por um longo<br />

período inédito de prosperidade, permitiram aos banqueiros internacionais oferecerem<br />

empréstimos fáceis a todo solicitante imprevidente que, a semelhança do Brasil, pretendia<br />

acelerar a delirante velocidade do take-off industrial. A origem da situação é exatamente<br />

essa: na década dos 70 uma quantidade fenomenal de dinheiro tornou-se disponível como<br />

poupança, resultado do trabalho dos ocidentais após os "trinta anos gloriosos" e<br />

particularmente a partir dos lucros lotéricos (windfall) dos árabes. Tratava-se de "reciclar"<br />

todo esse dinheiro. Era essa a função dos banqueiros: assegurar lucros e renda fixa ao<br />

dinheiro depositado pelos xeques, os magnatas e também o pequeno poupador europeu e<br />

norte-americano, lucro e segurança política contra expropriações e impostos. Os banqueiros<br />

não angariaram todas as vantagens do negócio, mas apenas suas regias comissões bancárias<br />

e mais as taxas de risco — o que era aliás suficiente para conceder a monstros como o<br />

Citicorp, o Chase Manhattan, o Crédit Agricole e outros, benefícios monumentais. Os<br />

árabes de nós, perdulários, ganharam duplamente: como vendedores de petróleo caro e<br />

como donos do capital que nos era emprestado a juros elevados. E pedimos emprestado<br />

basicamente por dois motivos: porque nossa economia dependia desastrosamente do<br />

petróleo importado (já que a Petrobrás não se decidira, em momento oportuno, a acelerar a<br />

sua pesquisa e exploração do petróleo na plataforma continental) e porque ansiávamos pelo<br />

bolo do desenvolvimento antes das outras crianças... Foi essa uma das consequências<br />

paradoxais do terceiromundismo: que tenha sacrificado o Terceiro Mundo boboca, que não<br />

dispõe de petróleo, ao Terceiro Mundo esperto, que o possui, por intermédio de financistas<br />

ainda mais espertos do Primeiro Mundo...<br />

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