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O Dinossauro - Ordem Livre

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norte do rio Grande. Numa época em que o regime militar brasileiro era objeto de<br />

repugnância universal na Europa e na América, a popularidade do sistema ditatorial<br />

mexicano causava espanto, sem outra explicação do que a eficácia maravilhosa da retórica<br />

de esquerda. Mais recentemente, dois outros elementos do quadro mexicano atraem a<br />

atenção: 1) mais adiantado do que o nosso país está o México no processo de estatização<br />

dos meios de produção; e 2) mais avançado também do que o Brasil o fenômeno de<br />

corrupção, inseparável desse tipo de socialismo, ardilosamente acoimado de "capitalismo de<br />

Estado"...<br />

Cultivado o modelo mexicano por nossa intelligentsia tupiniquim, na verdade<br />

verificamos que a estrutura de um estado socialista já está montada em torno do<br />

Popocatepelt. Aztecas, toltecas, chichimecas, olmecas e tlaxcatecas já mantêm pesadas<br />

hipotecas sobre o regime, não faltando nem o suporte intelectual da legitimação ideológica,<br />

nem os prodigiosos vícios da Nomenklatura dominante. As estimativas oficiais mexicanas<br />

sugerem um comando pelo Estado de 75% da economia. As estimativas privadas elevam o<br />

cálculo para 85%. A estatização de 57 bancos particulares em 1983 teria contribuído para<br />

ultrapassar os 3/4 confessados pelo governo, de conformidade com o programado no Plano<br />

Nacional de Desenvolvimento proposto pelo presidente De la Madrid. As diretrizes do<br />

Plano não são tanto marxista-leninistas. São estalinistas. Foi Stalin o grande inventor dos<br />

planos quinquenais para a coletivização forçada e a industrialização a galope. O poder da<br />

classe média empresarial está sendo reduzido pela crise inflacionária e a recessão<br />

externamente imposta. Sobram apenas, como setor enérgico da economia industrial, os<br />

grandes investimentos estrangeiros, mormente americanos.<br />

Em recente visita ao México fui surpreendido por diversas facetas de uma<br />

realidade complexa e singular, com as cores fortes e os sabores picantes do huitlacoche, dos<br />

chiles e das mazorcas de milho. Certo, orgulha-se o México de uma poderosa<br />

personalidade. Nenhum outro povo latino-americano, nem mesmo o Brasil, se lhe compara<br />

no vigor do caráter nacional; na singularidade de um temperamento violento, apaixonado e<br />

criativo. Apesar de tudo, o país é muito mais homogêneo racialmente do que o nosso e se<br />

achega a um estágio bem mais avançado, no processo de amadurecimento e identificação<br />

nacional. As origens mexicanas são claras: o choque do conquistador espanhol e da massa<br />

indígena no trauma do longo crepúsculo colonial. A nação ainda vive o estraçalhamento de<br />

Tlatleloco, na noche triste de Cortez — esse gigante que a memória histórica da raça<br />

procura obstinadamente esquecer. Samuel Ramos e Octávio Paz nos falam do perfil do<br />

homem mexicano, passavelmente esquizofrênico e perdido no "labirinto de la soledad" que<br />

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