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O Dinossauro - Ordem Livre

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é a sociedade hispano-azteca. É uma sociedade cuja brutalidade cruenta se reflete em sua<br />

arte, de tão pronunciado estilo; nos vastos painéis e pinturas de Rivera, Orozco, Siqueiros,<br />

Tamayo; no admirável Museu de Antropologia da cidade do México; na monumentalidade<br />

extraordinária da arquitetura pré-colombiana, que só nas pirâmides do Egito e na Muralha<br />

da China pode encontrar rival em grandeza; e na crueza sangrenta das lutas civis que se<br />

sucederam desde a Independência.<br />

O que parece ser a segunda forte característica mexicana é o nacionalismo — com<br />

seu componente inevitável, o antiamericanismo. Não estaria longe de crer seja o próprio<br />

socialismo galopante não tanto uma opção econômica deliberada dos mexicanos, quanto<br />

uma reação instintiva contra o capitalismo yankee. Ambos os sentimentos, nacionalismo e<br />

antiamericanismo, são profundamente ambivalentes, como toda relação emocional. A<br />

afirmação cega e orgulhosa da identidade e originalidade do México se combina com uma<br />

profunda dúvida existencial, não de todo diversa da de nosso próprio "que país é este?". A<br />

cultura yankee invade a nação através do cinema, da televisão, do beisebol, da Coca-cola,<br />

da indústria automobilística e de um intenso turismo. Evidentemente, vive o México à<br />

sombra dos Estados Unidos. É um imperativo geopolítico irremovível: pobre México, tan<br />

lejos de Dios, tan cerca de Estados Unidos... Não podemos conceber, no Brasil, a<br />

relevância opressiva desse relacionamento pois, ao contrário do México, possuímos um<br />

forte ponto de apoio na Europa ocidental. Mas nessa correspondência amor x ódio se<br />

descobre ao mesmo tempo a válvula de segurança, eis que dos americanos recebe o país os<br />

capitais e a tecnologia de que necessita para seu desenvolvimento; e dos americanos a<br />

proteção militar, eivada de complexos de culpa, que lhe permite, sem susto, todas as<br />

aventuras ideológicas do lado do extremismo e do anarquismo.<br />

A dívida mexicana atual é proporcionalmente bem mais considerável do que a<br />

brasileira, pois se eleva a 100 bilhões de dólares pára um PNB de 130 bilhões, a metade do<br />

nosso. O grosso do comércio internacional se realiza com os Estados Unidos: em 1981,<br />

importou 17,4 bilhões de dólares de produtos americanos. Além disso, calcula-se em dois<br />

milhões o número de trabalhadores clandestinos que, anualmente, cruzam as águas do rio<br />

Grande e as longas fronteiras desguarnecidas do deserto do Arizona, para engrossar as<br />

fileiras sedentas de chicanos e wet-backs do sudeste americano. Embora cidadãos de<br />

segunda categoria, ali ganham eles cinco ou seis vezes mais que em sua pátria, o que<br />

contribui para reduzir a pressão social criada pela presença de dez milhões de<br />

desempregados ou subempregados. De um modo geral, a impressão que deixa a cidade do<br />

México e algumas outras que visitei é de um nível de vida mediano mais baixo que o<br />

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