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O Dinossauro - Ordem Livre

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no caso mais simples, se sustenta primariamente em relações de lealdade pessoal, cultivadas<br />

segundo um processo comum de educação. A autoridade não é um "superior" mas um chefe<br />

pessoal, um Senhor (Herr). O relacionamento não possui base intelectual, mas alicerces de<br />

profundidade afetiva.<br />

Weber distingue o regime feudal, tal como se desenvolveu na Europa ocidental (e<br />

poderíamos acrescentar no Japão), e o sistema patrimonialista. A aplicação de sua tese ao<br />

Brasil, e ao resto da América Latina, se faz mais correta e apropriadamente se<br />

considerarmos que, ao modelo primitivo do patriarcalismo semifeudal vigente na época<br />

colonial e, até certo ponto, sobrevivente nas regiões mais atrasadas do agreste nordestino (a<br />

Casa Grande da fazenda açucareira estudada por Gilberto Freyre, por exemplo), devemos<br />

acrescentar o modelo barroco absolutista. Na seção 7ª do mesmo capítulo dedicado à<br />

"autoridade tradicional", o sociólogo apresenta esse modelo. Conquanto tenhamos que<br />

admitir não seja a ideia ali desenvolvida como seria de desejar, o conceito weberiano é de<br />

extrema fertilidade. Ele afirma que, "com a criação de um staff administrativo puramente<br />

pessoal, especialmente uma força militar sob o controle do Chefe (Herr), a autoridade<br />

tradicional tende a se desenvolver sob a forma do patrimonialismo".<br />

A teoria do Estado patrimonialista é, entretanto, antiga. Descobre-se talvez a tese,<br />

pela primeira vez, no Livro III de a Política de Aristóteles, embora em breve referência. O<br />

estagirita alude aí ao tipo de "governo paternalista" em que o rei ou chefe do Estado<br />

governa como se a sociedade fosse sua propriedade doméstica. Seguindo nas pegadas de<br />

Aristóteles, Jean Bodin, em 1576, refere-se em certo momento, em sua obra Seis livros da<br />

República, ao que denomina "monarquia senhorial'', considerando-a um sistema de governo<br />

em que o governante é simplesmente dono de seus súditos e de toda a propriedade. Seria o<br />

tipo de governo referido como "Sultanismo" ou "Despotismo Oriental''. Bodin sustenta seu<br />

argumento com a tese da origem do Estado na instituição do pater familias, o qual possui<br />

poder absoluto sobre seus dependentes e governa soberanamente toda a economia<br />

doméstica, da qual é o único proprietário. Entretanto, a posição de Bodin se coloca contra o<br />

comunismo implícito em certos aspectos das teses de Platão em A República, de S. Tomas<br />

Morus em sua Utopia, assim como no radicalismo de certas seitas Anabatistas de sua<br />

própria época (Tomas Münzer, por exemplo). Em outras palavras, Bodin procura<br />

estabelecer uma distinção clara entre a soberania política do Estado e a propriedade privada<br />

dos chefes de família, cujo direito particular enfatiza. Bodin antecipa nisso a Locke.<br />

Destaca-se assim, com precisão, o que é público e do Estado, do que é privado, da família<br />

ou do indivíduo.<br />

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