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O Dinossauro - Ordem Livre

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Longe estava a corte de S. Cristóvão da de St. James, longe também o Rio de Janeiro<br />

republicano da Washington americana. Na realidade, falta-nos o espírito que anima esses<br />

regimes paradigmáticos, pois são eles sustentados por uma ideia político-legal de natureza<br />

ética, com cuja essência jamais atinamos. Fomos atraídos pelas aparências externas. Pela<br />

letra de suas constituições. Contaminados, porém, pela peçonha romântica, jamais<br />

percebemos qual o verdadeiro motor de suas admiráveis instituições liberais. Jamais<br />

penetramos no segredo de sua estabilidade; de sua capacidade de conciliação entre a ordem<br />

e a liberdade; de seu respeito aos direitos e confortos individuais; de seu indiscutível talento<br />

econômico que combina o estímulo lucrativo da concorrência capitalista com os<br />

imperativos da justiça, produzindo simultaneamente os mais altos níveis de produtividade e<br />

os mais equitativos padrões de distribuição.<br />

A verdade é que as aparências externas de nossos regimes — a Persona — foram<br />

anglo-saxônicas, num reconhecimento inconsciente da superioridade de suas instituições e<br />

numa ilusão muito característica de que, se adotássemos a forma política liberal dos Estados<br />

Unidos da América, seríamos nós também, Estados Unidos do Brasil, tão ricos e poderosos<br />

quanto aqueles. O espírito, porém, que nos inspirou era outro: era o do romantismo francês.<br />

O fato é que, enquanto a América do Norte se independizou e consolidou anteriormente à<br />

Revolução francesa, a América Latina alcançou esse mesmo estágio posteriormente a 1789<br />

e em consequência direta do grande tremor histórico provocado, em todo o Ocidente, por<br />

aquela Revolução e pelo regime napoleônico. Historicamente, foram o jacobinismo<br />

libertário populista e o autoritarismo bonapartista que, mui claramente, determinaram o<br />

desenvolvimento de nossa vida política. Foram a retórica romântica de Jean-Jacques<br />

Rousseau; o jogo desastroso da ideologia revolucionária, com o maniqueísmo da alternativa<br />

direita x esquerda; a morbidez emocional da literatura romântica — foram todas essas<br />

vigências da vida política e cultural francesa que, irremediavelmente, condicionaram nosso<br />

século XIX, prolongando-se seus dramáticos efeitos pelo século XX adentro.<br />

A mística republicana foi reforçada em toda a América Latina pelos eflúvios da<br />

"religião civil" de Rousseau. Ricardo Vélez Ro-dríguez, ao tratar da Propaganda<br />

Republicana em Evolução do pensamento político brasileiro, nota que o Contrato Social<br />

circulava no mundo hispano-americano já nas primeiras décadas do século XIX. "Ao inserir<br />

a 'religião civil' como elemento essencial na consolidação das instituições políticas,<br />

Rousseau dava uma contribuição importante para a utilização do fator religioso por parte da<br />

nova elite republicana, que fizera a independência da Espanha: a orientação rousseauniana<br />

do libertador Simon Bolívar (1783/1830), bem como a forma em que ele cooptou o<br />

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