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O Dinossauro - Ordem Livre

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considerações.<br />

Burocratas e intelectuais há muito que existem e são estudados como classes<br />

sociais distintas. A título de curiosidade histórica, podemos lembrar o antigo Egito onde se<br />

desenvolveu uma bem organizada burocracia imperial, ao mesmo tempo em que imperava<br />

um clero tão poderoso, politicamente, que acabou dominando a própria monarquia<br />

faraônica. A revolução religiosa empreendida pelo faraó Akhenaton foi dirigida contra o<br />

clero burocrático de Amon, reinante em Tebas. O papel da burocracia nos velhos impérios<br />

da antiguidade estaria associado ao tipo de sociedade "cosmólógica", conforme proposto<br />

por Eric Voegelin (em Order and History, volume I: Israel and Revelation). Na China, a<br />

constituição do Império Central desenvolveu uma prodigiosa instituição burocrática,<br />

recrutada por um sistema de exames aberto a todos, que é designada pelo termo de origem<br />

portuguesa "mandarinato" (de "mandar"). E não estaríamos longe da verdade se<br />

concebêssemos as duas "religiões" chinesas autóctones, o confucionismo e o taoísmo, como<br />

sistemas filosóficos apropriados, o primeiro, aos burocratas e, o segundo, ao anarquismo<br />

místico dos artistas, sábios e outros intelectuais avessos ao establishment imperial.<br />

Partindo da tese de Marx sobre um "sistema asiático de produção" que teria sofrido<br />

evolução independente na dialética progressiva dos regimes econômicos — feudalismo<br />

aristocrático x capitalismo burguês x comunismo proletário — Karl Wittfogel estudou o<br />

"despotismo oriental" nas chamadas "sociedades hidráulicas", dirigidas por elites<br />

burocráticas onipotentes. Alguns chamaram esse tipo político de Beamtenstaat. A obra de<br />

Wittfogel, descrita como "um estudo comparativo do poder total", foi publicada em Yale,<br />

1957. Ela nos interessa particularmente pela referência do autor à península ibérica. O<br />

sistema de produção dito "oriental" ou "hidráulico" teria sido introduzido na Espanha<br />

quando da invasão dos mouros. Os príncipes árabes, que eram acompanhados por<br />

burocratas sírios, trouxeram um modelo de irrigação artificial segundo padrões orientais,<br />

destinado a corrigir o clima às vezes bastante seco da parte meridional da península. Com<br />

esse modelo foi também adotado o gerenciamento estatal por uma burocracia subordinada à<br />

casa principesca. O impacto do Despotismo Oriental ter-se-ia assim exercido sobre toda a<br />

península de onde foi transferido para a América, no momento das Grandes Descobertas.<br />

Wittfogel escreve (p. 215): "Em contraste agudo com os romanos que se estabeleceram na<br />

Europa ocidental, os conquistadores árabes da Espanha estavam completamente<br />

familiarizados com a agricultura hidráulica e, em seu novo habitat, empregaram com afinco<br />

métodos que se haviam revelado extremamente profícuos em seus países de origem. Assim<br />

a Espanha moura tornou-se mais do que marginalmente oriental. Tornou-se uma sociedade<br />

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