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O Dinossauro - Ordem Livre

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atravessa hoje um dos seus mais notáveis períodos de prosperidade e cria, na Europa, um<br />

verdadeiro prodígio industrial de que é Milão o símbolo e a força motora. Ora, o senhor<br />

Luigi Barzini, em seu esplêndido livro sobre Os italianos, que muito vale a pena citar,<br />

critica o aparelho governamental de seu país por vícios que se assemelham aos nossos.<br />

Comprova, a meu ver, a existência de um substrato psicológico comum no fenômeno da<br />

burocracia teratológica. Barzini começa aceitando em parte a explicação de alguns<br />

escritores, seus compatriotas, que atribuem ao longo domínio espanhol na Itália meridional<br />

alguns dos males administrativos aparentemente incuráveis do país. A culpa caberia, diz<br />

ele, ao desprezo "feudal" dos espanhóis pelas ocupações úteis e produtivas. O galantuomo<br />

consideraria sinal de distinção o não fazer nada. A ociosidade representaria um status<br />

symbol. Barzini analisa o assunto num capítulo final intitulado "O eterno barroco" e<br />

denomina "preconceitos barrocos" o conjunto de características que Gilberto Freyre e<br />

Oliveira Vianna, entre nós, estudaram e classificaram como "complexo do gentleman". A<br />

forma principal é o desdém pelo trabalho manual, pelo comércio, o dinheiro e a atividade<br />

produtiva. Dizia-se, no Brasil colonial, "o ócio vale mais do que o negócio"... Hoje, a<br />

vingança do burocrata preguiçoso, que não é promovido, e do intelectual ocioso, que está na<br />

miséria, é pôr a culpa em cima do capitalismo e do imperialismo yankee...<br />

Acontece que a burocracia italiana, segundo Barzini, estaria principalmente nas<br />

mãos de meridionais, oriundos quase todos da classe dos galantuomini do reino de Nápoles<br />

e Duas Sicílias, de modo que tais preconceitos teriam permeado toda a Itália oficial nos<br />

últimos cem anos. O contraste seria grande com a mentalidade eficiente e produtiva de<br />

Milão e Turim (São Paulo e Paraná entre nós...) "A gente modesta é tratada com desprezo<br />

em todas as repartições", escreve ainda Barzini. "Os impostos são, em regra geral, como os<br />

que eram decretados no tempo dos vice-reis espanhóis, ao acaso, arbitrários e pesados para<br />

todo mundo, recaindo especialmente sobre aqueles que manifestam espírito de<br />

empreendimento e produzem coisas. A maior parte dos funcionários e dos políticos acredita<br />

que a vida econômica é um mal que deve ser estritamente controlado pelas autoridades,<br />

como um rio traiçoeiro, e, quanto mais regulada, melhor para todo mundo".<br />

O fato é que essa questão de mentalidade é opaca, envolvendo fatores religiosos,<br />

culturais, sociais, econômicos e históricos bem mais complexos que a simples atribuição de<br />

culpa aos espanhóis. Lembro-me de um dia haver entrado na Itália, de automóvel, vindo da<br />

Suíça. Que contraste entre os dois lados da fronteira! Do lado helvético, dois únicos<br />

funcionários, austeros, silenciosos e eficientes: um policial para examinar<br />

perfunctoriamente o passaporte e um guarda aduaneiro para perguntar se tínhamos algo a<br />

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