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O Dinossauro - Ordem Livre

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MERCANTILISMO E PATRIMONIALISMO<br />

O Brasil é o país do Grande Salto para a Frente. Realmente, ninguém segura este<br />

país! Pulamos da idade do carro-de-bois para a do automóvel e o avião, sem passar pela<br />

estrada de ferro. Mergulhamos no social-estatismo sem nunca haver saído do patriarcalismo<br />

patrimonialista e personalista. Penetramos na informática, na automação, nos satélites de<br />

comunicação, e vendemos tanques e aviões sofisticados ao exterior enquanto parte<br />

considerável da população permanece na idade da pedra, no estágio do paganismo<br />

umbandista e na fase do dionisismo carnavalesco. O Padim Cícero coexiste com a represa<br />

de Itaipu. A missa dos Quilombos com os aviões a jato da Embraer. Paradoxos e<br />

contradições! As decalagens e anacronismos são frutos de dois processos paralelos de<br />

desenvolvimento: o interno, natural ou endógeno; e o externo, exercendo-se através do<br />

"efeito demonstração", resultado mimético de nossa participação na esfera de cultura<br />

ocidental cuja evolução segue seu próprio ritmo acelerado. Sofremos permanentemente da<br />

necessidade de imitar e diligenciamos por acompanhar o desenvolvimento da chamada<br />

"sociedade exemplar", a sociedade moderna da Europa ocidental e da América do Norte que<br />

se apresenta como modelo ideal de cultura. A influência do ritmo externo, próprio da<br />

sociedade exemplar, perturba assim o ritmo interno, naturalmente mais lento. Somos, por<br />

um lado, um país semicolonial do Terceiro Mundo, sob certos aspectos vivendo ainda nos<br />

séculos XVII e XVIII — e, por outro, somos a sétima ou oitava potência econômica<br />

ocidental neste final do século XX. A disritmia já foi amplamente analisada pela sociologia<br />

brasileira. Poucas consequências práticas, porém, têm sido tiradas da análise. Há mais de<br />

trinta anos, Guerreira Ramos, então maioral do ISEB, propôs as categorias da Duplicidade,<br />

da Heteronomia, da Alienação e do Amorfismo. No que diz respeito à Heteronomia, ele<br />

assinalava que "país colonizado é uma coisa externamente e outra internamente. Nas<br />

relações com os demais países somos forçados a nos revestir da forma dominante na esfera<br />

internacional". O bravo intelectual fora influenciado, primeiramente pelo nacionalismo<br />

integralista e, em seguida, pelo terceiro-mundismo marxista-leninista, falando muito em<br />

"leis históricas inevitáveis" mas intuindo perfeitamente o fenômeno de decalagem cultural a<br />

que nos referimos. Ele desenvolveu uma tese que já fora explorada com sucesso por<br />

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