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O Dinossauro - Ordem Livre

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corresponderiam, grosso modo, à mentalidade nórdica e à mentalidade latina (Kierkegaard<br />

falou em "ético" e "estético"). Mas Peyrefitte acaba reconhecendo que, neste final do século<br />

XX, a oposição em apreço oferece um quadro muito mais complicado e nebuloso, com<br />

renascimento e expansões do lado de cá, colapsos do lado de lá. Assim como o mundo<br />

latino se está "protestantizando", mercê do desenvolvimento individual, o espírito do<br />

Mediterrâneo invade os Estados Unidos, com os hispânicos e pretos, e a Europa protestante.<br />

Por toda parte há crises que relançam a história em novos caminhos imprevisíveis.<br />

Peyrefitte nos fala, com mais insistência, das origens do que chama o Mal Romano<br />

em seu aspecto imperial, a mania centralizadora, que é analisada na Segunda Parte de sua<br />

obra. Revela-se aí como herdeiro da venerável tradição sociológica surgida com<br />

Tocqueville. Obviamente, atribui pelo menos parte da responsabilidade pelo estatismo<br />

retardatário da França moderna aos efeitos da Contra-Reforma que perseguiu, em todos os<br />

países católicos, a iniciativa individual na indústria (o barão de Mauá dizia, amargurado: "O<br />

empresário deve perder para que seja o Estado beneficiado") e criou as condições para sua<br />

permanência no estágio do patrimonialismo autoritário tradicional. O pensador francês<br />

também insiste nos efeitos nefastos da política de grandeza, de guerra e de centralização<br />

obsessiva empreendida pelo Estado francês desde a época de Richelieu e de Luís XIV. As<br />

raízes dos vícios que posteriormente corromperam a República devem ser procuradas, como<br />

acentuava Tocqueville, nesse Absolutismo monárquico. Em outras palavras, o socialestatismo<br />

encontra seu fundamento histórico na política que, procurando originariamente<br />

combater o feudalismo dos grandes senhores, acabou concentrando um poder exagerado nas<br />

mãos do governo central. Richelieu, Luís XIV e Colbert prefiguram o Estado jacobino e<br />

napoleônico. No caso particular, um dos aspectos do desenvolvimento perverso pode ser<br />

descoberto na centralização das decisões em Paris, com o crescimento monstruoso da<br />

capital e consequente abandono e atraso das províncias. O luxo, a glória e refinamento<br />

cultural da corte em Versalhes e da vida em Paris escondem a miséria e délabrement do<br />

resto do país. Peyrefitte acentua que "o povo francês é um povo maltratado por instituições<br />

políticas em desequilíbrio perpétuo", instituições que sempre inibem a iniciativa individual.<br />

A decadência francesa, no diagnóstico desse esplêndido analista, coincide com o<br />

estabelecimento definitivo das redes de intervenção burocrática e dirigismo econômico. A<br />

França pretende tomar pela força — com Luís XIV e Napoleão — aquilo que a Inglaterra<br />

irá conseguir pela indústria. Na base do "ninguém segura este país", a França, como antes<br />

dela a Espanha, irá cometer o mesmo erro fatal que, no século XX, fará a Alemanha do<br />

Kaiser e de Hitler, e hoje está a Rússia concretizando.<br />

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