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O Dinossauro - Ordem Livre

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pensamento sustentado na velha ordem liberal-conservadora, de natureza extremamente<br />

criativa. Seu objetivo é estreitar novamente os laços com a tradição individualista perdida,<br />

repelindo o populismo da sociedade de massas e concentrando a atenção na segurança da<br />

democracia contra a ameaça totalitária soviética. Eu colocaria como antecessores desse<br />

pensamento não somente Burke, Tocqueville e Burckhardt, que são redescobertos, mas os<br />

filósofos existencialistas Kierkegaard e Nietzsche, por sua ênfase sobre o Indivíduo<br />

singular que, em sua autonomia existencial e moral, deve enfrentar a ameaça de deglutição<br />

pelas massas pantagruélicas.<br />

Por um supreendente paradoxo, a crise anárquica juvenil do final da década dos<br />

sessenta, inicialmente promovida pela Grande Revolução Cultural chinesa, prepara, à<br />

"esquerda", a crítica à burocracia dominante que será encampada, na década dos oitenta,<br />

pelos liberais-conservadores da "direita". É assim, em suma, como vejo o desenvolvimento<br />

do liberalismo na iluminação racionalista do século XVIII, esse liberalismo frustrado pelo<br />

populismo e "democratismo" rousseauniano da Revolução francesa e pela dialética da<br />

ideologia nacional-socialista, que vem milagrosa e subitamente reemergir em nossos<br />

próprios dias.<br />

Uma de nossas conclusões finais, por conseguinte, é que a problemática de<br />

filosofia política que nos interessa não se coloca mais no sentido de uma dicotomia jacobina<br />

entre esquerda e direita, nem tampouco na velha antítese entre liberais e conservadores, e<br />

menos ainda no sangrento conflito da década dos trinta entre nacionalismo "fascista" e<br />

socialismo internacionalista. A polêmica de nossos dias é diversa. É a que opõe os<br />

neoliberais, de um lado, interessados em reduzir o poder açambarcador do Estado de<br />

massas, e os social-estatizantes do outro — os primeiros estimulados pelas perspectivas de<br />

um mundo cosmopolita, aberto à iniciativa privada de desenvolvimento imprevisível; e os<br />

segundos confiantes ainda na relevância de um planejamento "construtivista" em termos de<br />

manutenção da estrutura do Estado-nação soberano, fechado e legitimado pela ideologia<br />

nacional-socialista.<br />

Este livro constitui a minha contribuição inaugural para a coleção programada pela<br />

Sociedade Tocqueville. Encaixa-se portanto, em plena consciência, no grande movimento<br />

de opinião que percorre o mundo ocidental desde o princípio da década dos oitenta. Esse<br />

movimento do mal chamado neoconservadorismo ou neoliberalismo é o que vingou<br />

sobretudo nos Estados Unidos da América, na Grã-Bretanha e na França. Odeio o termo<br />

"ideologia''. Mais ainda as dicotomias ideológicas artificiais de esquerda e direita. O<br />

liberalismo-conservador no meu sentido não representa uma ideologia: é uma doutrina que<br />

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