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O Dinossauro - Ordem Livre

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literária alemã. Certo. Na medida em que se configura no Racionalismo uma postura<br />

filosófica extrema daqueles que gozam e proclamam um desenvolvimento extraordinário<br />

das funções intelectuais, pode o Romantismo ser definido, em contraposição, como uma<br />

tentativa de restringir a tirania da massa cinzenta e alargar o âmbito do rubro coração. A<br />

ênfase sobre o poder da Razão Humana é certamente sensível entre os italianos do<br />

Renascimento. Mas prosperou somente depois da Reforma protestante — sobretudo a de<br />

Calvino e Zwingli — e ganhou terreno na Europa ocidental e setentrional, alimentando-se<br />

da propensão dos Protestantes nórdicos em dirigir sua vida consciente de acordo com<br />

estritos e metódicos princípios racionais. Nessas circunstâncias, o Romantismo deve ser<br />

considerado, na Europa nórdica, não como dado estrutural primário, mas como fenômeno<br />

reativo, como compensação necessária, como contrapartida, contraproposta ou contradição<br />

psicologicamente explicável na base das relações consciente-inconsciente.<br />

Entre os latinos meridionais, ao contrário, constitui o Romantismo mais que um<br />

ponto de vista filosófico ou um estilo literário: é um modo de vida. É uma forma primária<br />

de expressão. E uma tendência poética natural, uma característica musical inata. Jung<br />

compara a profundidade de significado da palavra Sentiment entre os franceses com o tipo<br />

inferior de sentimento de um alemão, por exemplo. As erupções românticas de<br />

Gemütlichkeit comumente cheiram a cerveja. Para um alemão típico, um alemão do norte,<br />

ser gemütlich significa afagar os seios de uma gorda Fraulein, enquanto ouve um Lied de<br />

Schubert. Fausto é o modelo, o homem-símbolo do alemão de estilo gótico. Se Splenger<br />

pôde chamar a civilização ocidental de Fáustica e oferecer o grande alquimista com<br />

protótipo da cultura germânica — poderíamos, de igual maneira, propor Dom Juan ou<br />

talvez Otelo, esses heróis extravertidos e eróticos, como gênios tutelares da cultura católica<br />

latina. Ora, Fausto é um homem de razão, um intelectual apanhado pela cauda mefistofélica<br />

à sedução do Romantismo, ao passo que Dom Juan é romântico de nascença, um herói<br />

romântico e desafiador demoníaco da ordem do Logos divino.<br />

Na verdade, o herói latino típico é eminentemente romântico. Não por acaso escolheu<br />

Shakespeare, entre os latinos, seus grandes personagens amorosos — Romeu e Otelo.<br />

Hamlet, por outro lado, esse pensador introvertido e angustiado, é necessariamente um<br />

nórdico. No latino, o arquétipo da Grande Mãe exerce seu poder hegemônico muito perto,<br />

quase ao nível da consciência, enquanto lhe controla a ânima o comportamento normal em<br />

relação ao mundo. Nenhum italiano precisa ser convencido de que la Madonna e la Mamma<br />

são figuras de importância primordial em sua vida, sobretudo se é um napolitano, um<br />

calabrês ou siciliano. Nenhum espanhol requer os ensinamentos de Freud para ser<br />

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