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O Dinossauro - Ordem Livre

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pessoais em cada caso, em proveito do serviço em trabalho de equipe — traços e qualidades<br />

estes que são visíveis no tipo psicológico de pensamento e sensação, porém geralmente<br />

carentes no de sentimento e intuição. Para o funcionário brasileiro, prosperando num<br />

regime de natureza patrimonialista, cuja característica fundamental é a confusão entre o<br />

público e o privado — o emprego público é uma espécie, peculiar a nosso país, de otium<br />

cum dignitate, acessível ao aristocrata privilegiado que todos nós nos consideramos; uma<br />

forma sublime de previdência social que descobrimos muitos antes do socialismo. Pelo<br />

menos para dois ou três milhões de "servidores" e seus dependentes, Papai Noel ainda<br />

existe e o paraíso socialista já chegou. É o grande sonho da sinecura. A utopia cartorial. O<br />

Estado que, em outras plagas, aparece sob a forma de uma entidade hobbesiana, austera,<br />

poderosa e onipotente, às vezes tirânica — surge entre nós como imagem eminentemente<br />

rousseauniana, espécie de vaca leiteira ou de mãe-negra; ele parece existir para acolher,<br />

proteger, amamentar, sustentar (nomear, pagar, promover, aposentar) seus filhinhos<br />

queridos. O monstro do Cambriano que nos administra é um animal do sexo feminino: uma<br />

supermãe paquidérmica.<br />

Entretanto, há uma fatalidade na burocratização da sociedade. Estamos sofrendo<br />

aquilo que James Burnham chamou a "revolução gerencial" e, mais recentemente, J.<br />

Galbraith descreveu como a nova instituição, a Tecnoestrutura. Os puritanos queriam ser<br />

profissionais, no sentido de cumprir a sua vocação religiosa. Nós estamos condenados a sêlo.<br />

O próprio gigantismo da economia, da técnica e organização no mundo moderno impõe<br />

o tipo de racionalização no comando que consubstancia a nova tecnocracia gerencial —<br />

isto, quaisquer que sejam os percalços saudosistas que uma tal evolução nos possa inspirar.<br />

O burocrata, como tecnocrata, será sempre mais poderoso do que o hippie porque o<br />

burocrata, por definição, dispõe do poder. O autor polono-americano Zbigniew Brzezinski,<br />

ex-secretário do Conselho de Segurança Nacional do governo Carter, no livro Between Two<br />

Ages, admite que a sociedade — e não somente num âmbito universal mas no nível de cada<br />

nação ocidental, inclusive Estados Unidos — esteja cada vez mais rigidamente dividida<br />

entre os que pensam e os que sentem. De um lado os tecnocratas, tranquilos e metódicos,<br />

discípulos de Hobbes, controlando rudemente o poder. Do outro, os que Brzezinski chama<br />

de "emocionalistas" em rebelião contra a desumanização da sociedade de computadores.<br />

São os discípulos de Rousseau.<br />

Ora, o nosso desenvolvimento está chegando. Ele impõe suas condições, as duras<br />

exigências de luta pela vida — e uma das principais, na sociedade industrial, é a da<br />

eficiência. Precisamos de uma hierarquia eficiente, inteligente, competitiva e dedicada para<br />

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