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O Dinossauro - Ordem Livre

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escritor, "só concederam a Vossa Majestade como ciência de governo a desconfiança...<br />

Vossos Ministros abalaram e derrubaram todas as antigas máximas do Estado, a fim de<br />

incrementar ao máximo Vossa autoridade". E prosseguindo em suas acusações, com<br />

palavras que em certo momento lembram as que no próprio Brasil contemporâneo foram<br />

pronunciadas pelo ministro Hélio Beltrão, Fénélon conclui: "Não há mais confiança, nem<br />

temor da autoridade" enquanto "Vossa Majestade tudo tem entre as mãos, e ninguém mais<br />

pode viver senão de Vossos dons." Na verdade, Fénélon tinha razão. O rei açambarcara o<br />

poder, a majestade e glória que outrora haviam pertencido à Igreja. Isso aconteceu em<br />

França como na Espanha e em Portugal. O Absolutismo monárquico substituíra o<br />

Absolutismo da Igreja. O Estatismo absolutista está implícito na Contra-Reforma: a Igreja<br />

apelara para o Estado no sentido de suprimir a heresia. A Igreja conclamara os soberanos<br />

temporais para a luta contra o liberalismo dito protestante, anglo-saxão e "modernizante".<br />

Os reis absolutistas, Felipe II na Espanha, Luís XIII, com Richelieu, em França, e Luís XIV<br />

se aproveitaram da oportunidade para hostilizar os primeiros anseios de liberdade que se<br />

faziam sentir. Um liberalismo nascente que implicava a liberdade de julgar problemas<br />

morais ou liberdade de consciência e que seria fruto, segundo argumentava a Igreja, das<br />

detestáveis heresias de Lutero e Calvino. Em última análise, o liberalismo seria diabólico. O<br />

Catolicismo da Contra-Reforma é que, por tradição, transmite o autoritarismo o qual se<br />

transmuda hoje, naturalmente, no social-estatismo dos marxistas e dos teólogos da<br />

libertação.<br />

* * *<br />

Michel Crozier é particularmente interessante em sua análise do fenômeno<br />

burocrático em França. Suas conclusões (em O fenômeno democrático, p. 302) confirmam<br />

as opiniões dos autores anteriormente assinalados. Inicialmente, escreve ele que, "na<br />

França, a rigidez burocrática está associada à persistência dos estilos de vida tradicionais<br />

que a sociedade francesa tinha elevado a um alto grau de perfeição, antes da Revolução<br />

industrial. Resistindo a toda participação consciente e voluntária, e dando sua preferência à<br />

autoridade centralizada, à estabilidade e à rigidez de um sistema burocrático de<br />

organização, os franceses procuram, no fundo, preservar para a maior parte deles um estilo<br />

de vida que comporta um máximo de autonomia e de arbítrio individual, que procede dos<br />

mesmos valores aos quais camponeses, artesãos, burgueses e nobres da antiga França eram<br />

tão afeiçoados, e que deram origem a uma 'arte de viver' muito elaborada".<br />

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