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O Dinossauro - Ordem Livre

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trabalho de equipe, cálculo duro e frio, atenção ao pormenor, pontualidade. Não são as<br />

virtudes do barnabé. Eficiência implica predomínio de certos critérios morais abstratos, no<br />

sentido mais largo de imperativos categóricos de dever, justiça, responsabilidade e serviço,<br />

sobrepondo-se a quaisquer considerações de ordem pessoal e afetiva — a Lei sempre<br />

cumprida (dura lex, sed lex) contra as exigências da amizade, do parentesco, da antipatia ou<br />

simpatia. A eficiência "cria problemas", é um abacaxi — e o homem cordial, o homem da<br />

delicadeza, nada mais detesta do que os problemas e aqueles que os criam. Como conciliar<br />

a eficiência com a cordialidade verbosa, o horror à rotina, o dengue molengo mulato e os<br />

voos da imaginação sambatucante, aquecida pelo trópico úmido afrodisíaco? É muito<br />

melhor o bate-papo com o amigo e colega lá de baixo: o cangote da fulana, o traseiro da<br />

beltraninha, os peitos da sicraninha e o último gol da seleção, o bicho que vai dar hoje e o<br />

samba lá de minha terra que deixa a gente tonta. Arre, que ninguém é de ferro!<br />

Considerai o seguinte: O Estado desempenha, em nosso país, um papel<br />

preponderante, mais forte que o da própria sociedade, e isso antes mesmo de haver sido<br />

descoberto. Pelo Tratado de Tordesilhas, de 1494, o Brasil passou a pertencer à coroa<br />

lusitana quando sua própria existência concreta ainda era problemática. Vale lembrar a<br />

famosa observação do rei de França, Francisco I, de que desconhecia a cláusula do<br />

Testamento de Adão, dividindo o mundo entre seus primos de Portugal e Castela.<br />

Posteriormente à viagem de Cabral, um almirante que comandava uma esquadra equipada<br />

pelo Estado português com objetivos mercantilistas — houve uma tentativa fracassada de<br />

estabelecer no Brasil o regime feudal das capitanias hereditárias. Desde Alexandre<br />

Herculano, contudo, se considera que o feudalismo jamais vingou coerentemente em<br />

Portugal. Antes de qualquer outra nação da Europa ocidental, a monarquia portuguesa, sob<br />

a gloriosa Casa de Avis, centralizou todo o poder e suprimiu quaisquer veleidades de<br />

autonomia por parte dos grandes senhores da aristocracia territorial. O estabelecimento do<br />

Governo Geral em Salvador confirmou o traslado, para os novos territórios da América<br />

meridional, do sistema do Estado forte, patrimonialista e centralizador, mercantilista e<br />

autoritário. É nesse Estado burocrático que caracteriza a história de Portugal — e mais<br />

distintamente ainda a da Espanha — bem como a das nações subdesenvolvidas que lhes<br />

herdaram o império nas Américas. Sabemos ainda que, no século XVIII, Pombal nada mais<br />

realizou do que tentar modernizar e reforçar esse sistema caduco, se possível o<br />

enriquecendo com mercantilismo estatal. Foi sob sua influência perene que alcançamos a<br />

independência.<br />

Considerai agora mais duas circunstâncias históricas pertinentes a nosso<br />

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