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O Dinossauro - Ordem Livre

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administrações do período militar, o regime de "panelinha" se instalou triunfalmente, mercê<br />

da total ausência de controle da Casa por qualquer instância do Legislativo ou do<br />

Executivo. A patota terceiro-mundista que então se apossou das alavancas de comando,<br />

consciente de sua invulnerabilidade e imunidade a qualquer exigência de prestação de<br />

contas, esbaldou-se na distribuição em proveito próprio dos cargos, postos, benesses,<br />

mordomias e promoções. Prosperou uma verdadeira mentalidade de Cosa Nostra...<br />

Com a instalação da chamada Nova República, o problema não só não se reduziu,<br />

mas talvez se tenha agravado nas outras sesmarias do Estado. Cinquenta anos depois do<br />

Estado Novo, a nova República continua enfrentando, no serviço público, a relutância em<br />

impor critérios abstratos, racionais e impessoais de recrutamento e acesso. O empreguismo<br />

anticonstitucional, facilitado pelos esquemas eleitoreiros num sistema partidário que é<br />

essencialmente personalista e clientelista, mantém em toda a administração o domínio<br />

daquele tipo primitivo de autoridade. Nada há a fazer.<br />

Mantenho meu ponto de vista de que a famosa "revolução de mentalidade" é uma<br />

espécie de carisma que, às vezes, favorece os povos — não estando a sociologia por<br />

enquanto habilitada a determinar as condições para a inauguração da idade da Razão, com a<br />

vitória definitiva de Locke, Montesquieu e Tocqueville. O dom da eficiência é algo<br />

profundamente subjetivo. Tudo quanto podemos esperar é que surja um dia uma elite<br />

consciente do problema e com poder suficiente para solucioná-lo. Uma Graça, em suma...<br />

* * *<br />

Basílio de Magalhães, citado por Victor Nunes Leal, assim descrevia os coronéis:<br />

"Homens ricos, ostentando vaidosamente os seus bens de fortuna, gastando os rendimentos<br />

em diversões lícitas e ilícitas — foram tais coronéis os que deram ensejo ao significado<br />

especial que tão elevado posto militar assumiu, designando demopsicologicamente o<br />

'indivíduo que paga as despesas'. E assim penetrou o vocábulo 'coronelismo' na evolução<br />

político-social do país, particularmente na atividade partidária dos municípios brasileiros."<br />

O patrimonialismo, entretanto, escreve Faoro, consiste numa ordem burocrática dominante,<br />

com o soberano sobreposto ao cidadão. O "capitalismo de Estado", impedindo a autonomia<br />

da empresa, "ganhará substância, anulando a esfera das liberdades públicas, fundadas sobre<br />

as liberdades econômicas, de livre contrato, de livre concorrência, livre profissão, opostas,<br />

todas, aos monopólios e concessões reais" (p. 18). O mal de longe vem como assinala ainda<br />

Faoro: "A colonização e a conquista do território avançam pela vontade da burocracia,<br />

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