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O Dinossauro - Ordem Livre

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desenvolvimento industrial requer a repressão do sentimento, o esclerosamento da simpatia,<br />

a preocupação com as Coisas materiais em detrimento das Pessoas, e a atenção aos Fatos<br />

objetivos em detrimento das reações emocionais que esses fatos possam provocar. O<br />

Homem cordial não coincide com o Homo economicus. Nem costuma o Homo ludens levar<br />

a sério as regras draconianas de trabalho e os fatos agrestes que exigem a administração<br />

eficiente de uma nação economicamente poderosa. Há uma contradição abissal entre o<br />

homem de pensamento racional e o homem cordial, o homem "de coração", o homem<br />

afetivo que Bernanos chamava o "homem da amizade".<br />

Em outras palavras: a Grande Família patriarcal estaria condenada a perecer no<br />

processo de desenvolvimento, se não for encontrada uma solução conciliatória. Seria este,<br />

no meu entender, um dos motivos secretos em virtude dos quais o clero brasileiro, quer<br />

defendendo reacionariamente os interesses tradicionais da sociedade patriarcal condenada,<br />

quer promovendo revolucionariamente ideias socialistas, ditas "avançadas" e<br />

"progressistas", estaria, na realidade, em oposição de princípio à racionalização, implícita<br />

em qualquer modelo econômico neocapitalista, tão radicalmente refratário a qualquer<br />

sentimento. A Igreja sente, instintivamente, que o problema consiste em saber até que ponto<br />

nossa fé será afetada pelo desenvolvimento ou poderá, por sua vez, afetar o<br />

desenvolvimento, no sentido de sua humanização. Isso quer dizer que, na realidade, a Igreja<br />

não está fazendo opção preferencial pelos pobres. Está fazendo opção pela pobreza. Não<br />

deseja que os pobres enriqueçam, pois o enriquecimento geral determinará a redução de seu<br />

prestígio e poder. A apostasia. Que o problema não é insignificante, a prova a podemos<br />

colher no triste fato de que tantos padres e até mesmo bispos e cardeais se tenham<br />

desgarrado para o marxismo. Do mesmo modo, podemos propor a tese de que o poder<br />

adquirido pelos militares nos últimos vinte anos se prende à crença dos mesmos de haverem<br />

constituído o único segmento da sociedade que possui virtudes de organização, disciplina e<br />

racionalidade, suscetíveis de permitir a condução do desenvolvimento através do Estado.<br />

O que está ocorrendo no mundo é que o espírito profissional e racional da<br />

economia de mercado tornou-se parte integrante do conjunto de atitudes e da própria<br />

mentalidade da civilização ocidental. As virtudes calvinistas tornaram-se as virtudes do<br />

Ocidente do mesmo modo como os trajes masculinos sóbrios e escuros, calça, jaquetão,<br />

gravata e colete, a barba raspada e o cabelo cortado, introduzidos pelos puritanos ingleses<br />

(os round-heads) no século XVII, são ainda os que usamos em nossas atividades<br />

profissionais. Tais virtudes são as virtudes "modernas". Elas valorizam o trabalho.<br />

Retribuem a eficiência, a performance e a organização profissional de equipe (a empresa).<br />

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