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O Dinossauro - Ordem Livre

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"entretanto o homem que não esteja completamente contaminado pela tirania é, na verdade,<br />

raro ou não existente. Na linguagem vulgar, é o tirano aquele que oprime um povo inteiro<br />

por domínio baseado na força, mas poderá fazer isso se o quiser mesmo na mais modesta<br />

posição. Pois, se não sobre toda a massa do povo, de qualquer forma cada homem será<br />

senhor sobre os demais até onde seu poder lhe permitir". Por essas palavras, Voegelin<br />

considera John of Salisbury um precursor de Hobbes por força de sua capacidade de<br />

denunciar a libido dominandi em todos nós.<br />

Voegelin descobriu as falácias do "mundo onírico contra-existencial" na obra de<br />

Hobbes. Um outro autor teuto-americano, Leo Strauss, aprofundou-se ainda mais<br />

diretamente no estudo da relevância do filósofo inglês para a época moderna. Nascido de<br />

uma família de judeus ortodoxos em 1899, Leo Strauss emigrou para os EUA em 1938,<br />

fugindo da perseguição nazista. Exercendo a cátedra de filosofia política da Universidade<br />

de Chicago, tornou-se um dos pilares do pensamento neoconservador (no final da vida,<br />

porém, identificou Maquiavel como um vilão ainda mais detestável que Hobbes, em sua<br />

genealogia intelectual dos demônios do pensamento filosófico político). Considerou que a<br />

perversidade residia precisamente no empreendimento do autor do Leviatã de repudiar a<br />

velha tradição ocidental do Direito Natural, substituindo-a por uma "lei da natureza" em que<br />

os homens possuem "direitos naturais" baseados na força e no egoísmo. No cerne da<br />

filosofia de Hobbes, segundo alega Strauss, estaria a negação da natureza humana como um<br />

dado permanente da transcendência. Considerem o seguinte trecho do capítulo 15 do<br />

Leviatã: "Para que as palavras justo e injusto possam ter lugar, é necessária alguma espécie<br />

de poder coercitivo, capaz de obrigar igualmente os homens ao cumprimento de seus<br />

pactos, mediante o terror de algum castigo que seja superior ao benefício que esperam tirar<br />

do rompimento do pacto e capaz de fortalecer aquela propriedade que os homens adquirem<br />

por contrato mútuo, como recompensa do direito universal a que renunciaram. E não pode<br />

haver tal poder antes de erigir-se um Estado. O mesmo pode deduzir-se da definição<br />

comum da justiça das escolas, pois nelas se diz que a justiça é a vontade constante de dar a<br />

cada um o que é seu. Portanto, onde não há o seu, isto é, não há propriedade, não pode<br />

haver injustiça. E onde não foi estabelecido um poder coercitivo, isto é, onde não há Estado<br />

não há propriedade, pois todos os homens têm direito a todas as coisas. Portanto, onde não<br />

há Estado nada pode ser injusto".<br />

Em sua obra The Political Philosophy of Hobbes (Chicago, 1952), publicada<br />

inicialmente na Inglaterra em 1936, mas só reconhecida como importante nos EUA depois<br />

da guerra, e também em outro livro, Natural Rights and History (Chicago, 1953), Leo<br />

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