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O Dinossauro - Ordem Livre

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"Se a audácia de tuas empresas me esconde às vezes de sua atrocidade, também<br />

sempre permaneço confuso, ora porque teus delitos me congelam de horror, ora porque tuas<br />

virtudes me arrebatam de admiração", assim escrevia Diderot a Raynal (1781) (Si la<br />

hardiesse de tes entreprises m'en dérobe parfois l'atrocité, je suis toujours également<br />

confondu, soit que tes forfaits me glacent d'horreur, soit que tes vertus me transportent<br />

d'admiration).<br />

Não creio assim que a influência do romantismo francês tenha sido casual. Nossa<br />

opção não foi o resultado de coincidências ou mesmo de decisões plenamente conscientes.<br />

Foi, isso sim, consequência direta de nosso complexo psicológico latino-católico, de<br />

natureza afetiva e intuitiva; as facetas da sociedade erótica virtualmente avessa ao domínio<br />

das funções intelectuais, lógicas e pragmáticas; e a estrutura da Grande Família educada<br />

pela Mater et Magistra. Escolhemos a França como sociedade exemplar porque somos<br />

latinos e porque a expressão do sentimento e da emoção, própria do componente emocional<br />

da cultura francesa, foi o que nos atraiu. Desprezamos totalmente o classicismo apolíneo<br />

para nos deixar empolgar pela reação das raisons du coeur, desencadeada por Jean-Jacques.<br />

Entusiasmamo-nos pela tomada da Bastilha, pela epopeia do homem montado num cavalo<br />

branco, pelos grandes distúrbios libertários do século XIX. Ao invés de uma consideração<br />

serena do imperativo de Justiça, foi criada a mística, o Mito da Revolução — a Revolução<br />

como solução utópica a todos os problemas existenciais. Foi também assim criado o<br />

messianismo bonapartista.<br />

Napoleão possuía um formidável intelecto. Ele representou, historicamente, o<br />

papel de último e maior dos "déspotas esclarecidos" na tradição do racionalismo dos<br />

séculos XVII e XVIII. Mas sua epopeia é essencialmente romântica: comporta o culto<br />

patriótico da glória nacional, a propagação violenta das ideias democráticas, a militarização<br />

da sociedade, a irresponsabilidade e irracionalidade de um império agressivo que<br />

transtornou a Europa, sem qualquer resultado positivo. Foram esses elementos de sua saga<br />

heroica e sangrenta que fascinaram as mentes imaturas dos latinos. Na América meridional,<br />

todos os grandes líderes populares quiseram pautar seu comportamento, quer no de Marat e<br />

Robespierre, quer no de Napoleão (inclusive no de Napoleão III). Doravante, colocou-se a<br />

alternativa entre o jacobinismo populista e o autoritarismo bonapartista, sustentado no<br />

canhão e no tanque. Em nosso próprio país, Pedro I comportou-se não como um príncipe<br />

absolutista de velha estirpe, mas como um herói libertador ("Independência ou Morte!") —<br />

proclamando-se imperador segundo o modelo francês. Anos depois, já em Portugal e com o<br />

título de D. Pedro IV, nosso herói de novo combateria e morreria tuberculoso como um<br />

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