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O Dinossauro - Ordem Livre

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que é privado.<br />

Entretanto, fundamental em uma organização democrática é que, dadas as<br />

desigualdades naturais, se consolidem duas igualdades essenciais, pelo menos: a de<br />

oportunidades e a de submissão à lei. É nesse sentido que podemos sustentar a necessidade<br />

de superar a mentalidade de privilégio. Sem isso, jamais alcançaremos a tal famosa<br />

democracia que queremos...<br />

* * *<br />

O símbolo da aliança do intelectual com o déspota reformista nos é oferecido pela<br />

amizade de Descartes com a rainha Cristina da Suécia (e lá se foi o pobre filósofo, de<br />

cabeça forte e corpo franzino, para morrer de pneumonia em Estocolmo...); e pela de<br />

Voltaire com Frederico o Grande, da Prússia.<br />

Voltaire, o grande espírito da época, que debicava tudo, que pregava contra a<br />

Igreja e o clero, que reinava pela malícia e a ironia, insistia no entanto, em 1769, que "não<br />

se trata de fazer uma revolução como no tempo de Lutero e Calvino, mas de fazê-la no<br />

espírito daqueles que nasceram para governar". Tratava-se, isso sim, de provocar o que<br />

chamamos hoje de "mudança de mentalidade" nas elites, na cúpula governamental, se<br />

possível na cabeça dos reis. Como Voltaire, os outros filósofos enciclopedistas não podiam<br />

conceber uma forma de governo como a Confederação Helvética e os Países Baixos, ou<br />

Estados novos que surgiam na América para surpresa e pasmo da opinião pública europeia.<br />

O próprio Hume, por exemplo, negava absolutamente que um grupo de homens pudesse<br />

concluir um Contrato Social, sem audiência e concordância de seu soberano. Hume morreu<br />

exatamente em 1776, poucas semanas depois da Declaração de Independência americana<br />

que lhe desmentia o preconceito. Os pensadores mais eruditos, como Montesquieu,<br />

admiravam acima de tudo o exemplo inglês porque nele descobriam o segredo da separação<br />

e equilíbrio dos poderes — não apenas no sentido funcional, mas no sentido hierárquico. Na<br />

Inglaterra vigorava uma perfeita distribuição de funções, de autoridade e de<br />

responsabilidade entre o rei, chefe constitucional mas de uma constituição não escrita; a<br />

elite aristocrática e a alta burguesia com assento na Câmara dos Lordes (alguns vitalícios e<br />

outros hereditários); e, finalmente, o povo em geral, com representação na Câmara dos<br />

Comuns. A soberania estava expressa na fórmula concisa: "O Rei no Parlamento"...<br />

O movimento de reforma, na segunda metade do século XVIII, teria conduzido<br />

talvez toda a Europa para uma evolução pacífica em direção à democracia parlamentarista<br />

— paralelamente ao que ocorrera na Inglaterra — se não houvesse sido frustrado, de um<br />

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