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O Dinossauro - Ordem Livre

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hidráulica genuína, governada despoticamente por funcionários nomeados e sujeita à<br />

imposição de taxas por métodos de aquisição por gerenciamento agrário (taxed by<br />

agromanagerial methods of acquisition). O exército mouro, que mudou rapidamente de um<br />

corpo tribal em exército 'mercenário', era tão distintamente um instrumento do Estado como<br />

seus equivalentes nos califados dos Umayyades e dos Abassidas". Wittfogel conclui que "a<br />

força extraordinária do absolutismo espanhol" deve ser atribuída a essas características do<br />

Estado mourisco, em que pese a certos traços do feudalismo europeu ocidental que<br />

vingaram na parte setentrional da península.<br />

O sociólogo alemão não faz referência a Portugal em seu estudo. No Brasil,<br />

entretanto, Ricardo Vélez Rodríguez procurou aplicar as teses de Wittfogel à formação<br />

centralizada e burocrática do Estado brasileiro. Este, embora tenha conhecido um tipo de<br />

feudalismo incipiente com o sistema de capitanias hereditárias imposto no início da<br />

colonização conforme constatamos em capítulo anterior — não tardou a revelar tendências<br />

para a centralização burocrática com o sistema de Governo Geral. Fortaleceu-se após a<br />

expulsão dos holandeses e, sobretudo, após a descoberta das Minas Gerais, com sua<br />

transferência de Salvador para o Rio de Janeiro, de tal modo que, Ricardo Vélez argumenta,<br />

o poder e autoridade dominantes do Estado no Brasil seriam resquícios do "despotismo<br />

oriental" herdado dos mouros e imposto após a conquista do sul de Portugal no século VIII.<br />

O poder de nossa burocracia estatal teria essa origem longínqua. A necessidade de<br />

centralizar a defesa da colônia contra as tentativas de piratas franceses, ingleses e<br />

holandeses, assim como o sistema mercantilista promovido pela descoberta de ouro e<br />

diamantes teriam reforçado a tendência. Confesso ser um tanto cético quanto à importância<br />

dessa brilhante trouvaille de meu amigo Ricardo Vélez, uma vez que não acredito terem as<br />

condições naturais de Portugal correspondido às exigências do "sistema hidráulico" de<br />

Wittfogel — sistema que, afinal de contas, se resume a um determinismo assaz estreito.<br />

Mas reconheço que a tese do jovem professor colombiano é interessante e mereceria uma<br />

pesquisa mais considerável por parte dos sociólogos brasileiros. O autor invoca inclusive a<br />

autoridade prestigiosa de Alexandre Herculano, para quem nunca teria sofrido Portugal um<br />

regime realmente feudal como no resto da Europa ocidental. O Estado português, desde o<br />

princípio, teria revelado traços inquestionáveis de centralismo burocrático e o papel do<br />

terrível marquês de Pombal se esclareceria pelo desejo de restabelecer e modernizar essa<br />

estrutura despótica, no momento em que se agravavam os ominosos sinais de decadência.<br />

Aceitamos pois cum grano salis a teoria hidráulica do Despotismo Oriental como um fator<br />

que teria contribuído, juntamente com o "mal latino" anteriormente discutido neste livro e<br />

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