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O Dinossauro - Ordem Livre

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coerente do papel do Estado na sociedade. Foi essa visão que influenciou as reações<br />

daqueles que são responsáveis pelo aparelho decisório (decision makers), na América<br />

Latina, às crises econômicas e sociais. A ideia central da visão orgânica-estatal da<br />

sociedade inclui uma ênfase sobre a comunidade política harmoniosa. Esta constituiria "o<br />

centro moral da visão orgânico-estatal" e o conceito de uma "obrigação moral" do Estado<br />

de alcançar o Bem Comum. O tema de Stepan é o mesmo que estudaremos mais adiante sob<br />

o signo do "Mal latino". Certamente o social-estatismo brasileiro tem também origens na<br />

Escolástica da Igreja Católica e no desejo do clero de, por sua "opção preferencial pelos<br />

pobres", manter o domínio que exerce sobre a população modesta. É um caso de libido<br />

dominandi...<br />

* * *<br />

Monstro antediluviano, foi a burocracia brasileira erguida como instituição<br />

patrimonial com seus castelos, cercados de bastiões, fossos e pontes-levadiças. Neles<br />

habitam os grandes barões do Estado cartorial, a aristocracia soberba dos "altos<br />

funcionários", duques e marqueses poderosos com sua enorme clientela de gordas<br />

escriturárias e magricelas serventes famintos que suplementam o salário-mínimo com<br />

gorjetas e comissões. Sobrevivem o foro, a enfíteuse e o laudêmio. Sólidos como o Pão de<br />

Açúcar, resistem ao sopro de renovação os direitos adquiridos, que são muitos: o direito ao<br />

cargo para o qual foi nomeado sem concurso, por ser filho de fulano ou primo de dona<br />

Carmen; o direito à promoção por ser amigo de beltrano; o direito à reclassificação, por ser<br />

amante de sicrano.<br />

O Brasil ainda não atingiu à Idade da Razão. O brasileiro é o "homem cordial", o<br />

"homem erótico", o homo ludens, o homem "amigo" de Bernanos — talvez mesmo o<br />

"homem bom" de Cas-siano Ricardo. Mas é também o "homem cartorial", que assim se<br />

chama por haver sido, outrora, descrito e classificado pelo professor Cartorius e outros<br />

filósofos ès-ciências administrativas contratados pelo ISEB. Algumas figuras exponenciais<br />

de nossa hierarquia burocrática merecem um tratamento especial em nossa análise,<br />

juntamente com suas idiossincrasias. Temos em primeiro lugar o alto funcionário.<br />

Um de suas principais características é seu ar de importância. O alto funcionário<br />

possui sempre, como o descreve Machado de Assis na pessoa do Conselheiro Aires, "o<br />

calor do ofício, o sorriso aprovador, a fala branda e cautelosa, o ar da ocasião, a expressão<br />

adequada, tudo tão bem distribuído que é um gosto ouvi-lo e vê-lo"...<br />

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