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O Dinossauro - Ordem Livre

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evolucionários.<br />

Acontece que os franceses, como herdeiros da tradição mediterrânica de uma<br />

Cultura da Forma, são um povo caracterizado por uma "função do sentimento" fortemente<br />

diferenciada e refinada. São igualmente meio-germânicos. Num sentido que contrasta com<br />

os outros latinos, comungam do intelectualismo frio e pragmático dos povos nórdicos. Mais<br />

que qualquer outra nação, talvez, cultuam os franceses essas duas divinas qualidades do<br />

homem, l'intelligence e l'amour. Infelizmente, nem sempre souberam manter uma tensão<br />

criadora, muito menos uma harmonia tranquila entre as duas vigências opostas. O amor,<br />

sempre intelectualizado, tornou-se, não raro, tão artificial quanto um coração de pano rubro<br />

para o florete da esgrima mental. A inteligência, por sua vez, transformou-se,<br />

frequentemente, num veículo de paixões reprimidas, a serviço de ressentimentos suspeitos.<br />

É por esse motivo que a Idade da Razão, ainda tão soberbamente equilibrada e majestosa no<br />

Grande Século do Rei Sol, degenerou em seguida num conflito íntimo, de que a dialética<br />

agitada entre Racionalistas e Românticos representa apenas a manifestação exterior.<br />

Tudo ainda correu de modo satisfatório enquanto o espírito francês pôde encontrar<br />

um terreno de acordo sutil graças à posição excepcional da mulher, o que lhe permitiu<br />

manter um contato relativamente íntimo com sua ânima inspiradora. Desempenharam as<br />

mulheres, como egéries, um papel de primeiro plano no contexto claro e formal do<br />

classicismo francês. Nos séculos XVII e XVIII afirma-se a presença feminina nos negócios<br />

mundanos, no gosto e na moda, na literatura, nos padrões artísticos e no controle dos<br />

segredos de estado. Idade de elegância, refinamento e galantaria! Os reis mais poderosos<br />

submetiam-se aos bons conselhos ou caprichos das mulheres: "Qu'en pense Ninon de<br />

Lenclos?" costumava perguntar Luís XIV nas mais importantes questões de estilo. A graça<br />

da cortesia desenvolveu-se. Também a arte do cortesão. Surgiu o conceito de estilo e de<br />

moda, assim como, pela primeira vez em política, se ouviu falar na "opinião pública" como<br />

força social efetiva. Uma opinião pública que, como a mulher, é caprichosa e volúvel. O<br />

erotismo procurou formas refinadas de expressão, mas o amor ainda reconhecia uma ordem<br />

mais elevada, não obstante sua procura labiríntica da união sexual... Talleyrand (ou terá<br />

sido Mirabeau?) esteve bem perto da verdade ao declarar, como ponto de vista saudosista<br />

de aristocrata privilegiado, que "quem não viveu antes de 1789, não conheceu la douceur de<br />

vivre", doçura de viver para a qual muito contribuíram essas adoráveis criaturas como o<br />

melhor dos seus ingredientes.<br />

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