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O Dinossauro - Ordem Livre

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desconhecimento das realidades empíricas; sua ausência de espírito prático; em suma, a<br />

natureza tipicamente utópica e ideológica de suas elucubrações, foram salientados, entre<br />

outros, por Tocqueville em L'Ancien Regime et la Révolution (1856). Referindo-se à<br />

"condição dos escritores" e criticando seu "distanciamento quase infinito das coisas<br />

práticas", Tocqueville enfatizava "l'absence complète de toute liberté politique faisait que<br />

le monde des affaires ne leur était pas seulement malconnu, mais invisible". E, depois de<br />

explicar como essa falta de experiência tinha o efeito de tornar suas teorias mais radicais e<br />

mais utópicas do que nunca, acentua que "la même ignorance leur livrait l'oreille et coeur<br />

de la foule". Opinião semelhante foi externada por John Adams, o segundo presidente dos<br />

Estados Unidos, que numa de suas cartas de França comenta: "aqueles que se intitulam a si<br />

mesmos os filósofos da revolução francesa" comportam-se como "monges, conhecendo<br />

muito pouco a respeito do mundo" e de sua estrutura. É o poeta romântico inglês<br />

Wordsworth que assinala, '' no meio de todas as revoluções, nas esperanças e temores dos<br />

homens'', ser esta estrutura da realidade, este "quadro das coisas (frame of things) aquilo<br />

que ainda se mantém imutável"...<br />

'mid ali revolutions in the hopes<br />

And fears of men, doth still remain unchanged...<br />

Não é sem surpresa que vamos encontrar, numa carta de Einstein a Freud,<br />

meditações sobre a agressividade e espírito de destruição que encontramos, frequentemente,<br />

entre os intelectuais. "Aqui estou pensando", disse Einstein, "não tanto nas chamadas<br />

massas incultas. A experiência prova que antes é a chamada intelligentsia que é mais sujeita<br />

a ceder ante estas desastrosas sugestões coletivas, uma vez que o intelectual não possui<br />

contato direto com a vida em toda sua crueza, mas a descobre em sua forma sintética mais<br />

fértil — na página impressa". Vemos, na verdade, que contra o pragmatismo reformista,<br />

profunda e friamente meditabundo dos revolucionários anglo-saxões, ergue-se a Nova<br />

Classe de intelectuais utópicos, os philosophes teoréticos e oraculares dos países latinos,<br />

macumbeiros da política. Essa Nova Classe produz principalmente discursos. Produz<br />

orações, promessas, planos, organogramas, projetos de lei e constituição, "pacotes",<br />

"pacotões", propostas, declarações, artigos de jornal, até mesmo livros. Realmente, o que<br />

não produz é riqueza. Produz promessas demagógicas em favor dos pobres, mas fica nisso<br />

enquanto defende seus próprios interesses.<br />

Tal é o caso dos pequenos profetas, de que tão cheio está o mundo atual — os<br />

Paracletos dos pobres, bafejados por uma aragem qualquer que consideram procedente do<br />

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