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O Dinossauro - Ordem Livre

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Encheu-se o país de esperanças em princípios de 1985, à inauguração do novo<br />

governo, "confiante na solução de todos os seus angustiantes problemas"... O Brasil é um<br />

país futurista, além de ser o país do futuro. Povo adolescente, é emotivo, agitado, amante da<br />

retórica, ingênuo, sugestionável, às vezes nervosinho, destemperado, aparentemente<br />

desmemoriado. Por essa razão alguns podiam conjeturar que tudo ia mudar na Nova<br />

República. Eu porém, que sou velho carcomido e na minha infância cheguei a conhecer a<br />

primeira Velha República, me atrevo a fazer julgamentos em perspectiva diferente. Por<br />

felicidade, espero não estar ainda esclerosado. Esta feliz circunstância me permite suprir,<br />

pela experiência pessoal, aquilo de que carecem os livros de história, quase nunca lidos e<br />

logo olvidados. Em 1930, lembro-me ainda, foi um frenesi entusiástico de mudança que<br />

subverteu o país: ia-se finalmente realizar as promessas liberais que, conforme se pretendia,<br />

haviam sido frustradas pela "oligarquia". Não obstante classificada como "deserto de<br />

homens e de ideias", a República fervilhou com uma pletora de jovens tenentes, intelectuais<br />

e políticos que iam deixar sua marca sobre os 50 anos seguintes. Dois anos depois, contudo,<br />

as decepções já eram de porte a provocar uma das poucas guerras civis de certa seriedade<br />

que registram nossas crônicas. Falou-se em "constitucionalismo" para justificar o entrevero.<br />

A superstição de que uma "nova constituição" constitui uma espécie de Tábua da Lei ou<br />

panaceia evangélica que vai orientar o povo no caminho da justiça, da liberdade e da eterna<br />

felicidade, perdura até hoje. Mesmo na mente de tão venerável, calejada e serena<br />

personalidade quando a do dr. Afonso Arinos. Afinal de contas, depois de sete ou oito<br />

instrumentos desse tipo, desde 1822, já deveríamos haver aprendido que uma "nova<br />

Constituição" nada mais é que outro exemplar de uma publicação periódica, destinada a ser<br />

elaborada e depois inteiramente esquecida. Qual é a lei que se respeita nesta nossa feliz<br />

terra de Pindorama, entre as cento e tantas mil em vigor?<br />

Na década dos 30, os anseios futuristas de renovação se aglutinaram em torno de<br />

ideologias, presididas de um lado pelo Cavaleiro da Esperança, marxista, e, do outro, pelo<br />

Esperado dos nacionalistas de direita. Ambos, porém, só serviram de catalizadores<br />

involuntários para o novo Príncipe de Maquiavel, o Pai dos Pobres que cristalizou os velhos<br />

sonhos sebastianistas da nacionalidade. O último e maior dos caciques ou coronéis<br />

provincianos de nossa estrutura patriarcal clientelista, positivista sem convicções mas<br />

oportunista, Getúlio Vargas foi também o primeiro e maior dos líderes carismáticos que<br />

souberam compreender a emergência do populismo demagógico através do voto direto.<br />

Vargas cognominou a sua ditadura de "Estado Novo". "O Brasil deposita a sua fé e a sua<br />

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