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O Dinossauro - Ordem Livre

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nem na própria Inglaterra sem Cromwell, dois ditadores militares. A "Revolução pelo<br />

Alto", promovida por uma aristocracia militar, de que nos fala Barrington Moore, também<br />

lançou os alicerces da democracia na Alemanha dos junkers de Bismarck e no Japão dos<br />

samurais de Meiji — alicerces sobre os quais se reconstruíram as duas nações após a<br />

catástrofe da Segunda Guerra Mundial. No Japão podemos ainda salientar que a admirável<br />

fortaleza da estrutura hierárquica de sua sociedade foi forjada, dura, flexível e eficiente<br />

como uma espada de samurai, por 300 anos de autoritarismo militar de Shogunato.<br />

Teria realmente o regime militar de 64/85 educado o Brasil para a democracia,<br />

como pretende agora a Escola Superior de Guerra em sua nova doutrina, "revista"<br />

apropriadamente para a conjuntura? Muita gente concordará com o termo "despotismo" que<br />

usei, mas negará o adjetivo "esclarecido". Na verdade, após Castello Branco, o regime aos<br />

poucos se corrompeu e recaiu na maioria dos males contra os quais povo e exército se<br />

haviam levantado em março/abril de 1964. Mas que amadurecemos, não há dúvida — o<br />

problema é saber quanto amadurecemos. O país é hoje econômica e socialmente muito<br />

diferente do que era na década dos 50. Terá tomado juízo? Talvez ainda seja cedo para<br />

julgar a Nova República e, com ela, a Revolução de 1964 que foi feita, precisamente, para<br />

prepará-la... Mas o ponto principal do argumento é que, constantemente, em 1930, 1937,<br />

1950, 1956, 1964 e, de novo, 1986, o Estado patrimonialista socializante, ineficiente e<br />

centralizador tem saído reforçado de tais refregas. Obviamente, as mudanças superficiais de<br />

regime nunca hão alcançado o cerne da problemática nacional.<br />

* * *<br />

A pergunta que se pode fazer e que constantemente fazemos nas entrelinhas e nos<br />

subentendidos dos nossos ardentes debates, é: "por que o Brasil é um país subdesenvolvido,<br />

por que é uma nação atrasada, por que um Estado com tantas dificuldades políticas, sociais<br />

e econômicas quando dispomos de um dos mais ricos patrimônios naturais do planeta?" A<br />

tendência natural, humana, demasiadamente humana, é pôr a culpa em cima dos outros. Ou<br />

de circunstâncias, ou de acasos infelizes, ou de conspirações externas. A tendência natural é<br />

procurar causas exógenas, nunca indagar das causas endógenas. Trata-se do famoso<br />

mecanismo de Projeção de Culpa sobre bodes expiatórios, um mecanismo tanto mais<br />

habitual quanto o bode expiatório deve ser estrangeiro e, por conseguinte, desprovido de<br />

vínculos afetivos com o nosso grupo social. A Projeção de Culpa se alimenta desse que é<br />

um dos mais poderosos vícios da alma humana: a inveja e ressentimento pelo fracasso.<br />

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