12.04.2013 Views

O Dinossauro - Ordem Livre

O Dinossauro - Ordem Livre

O Dinossauro - Ordem Livre

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Por Hegel e por todos os filósofos totalitários foi enormemente apreciado outro<br />

dos paradoxos metafísicos de Rousseau (ou sua "chantagem semântica", como diz<br />

Huizinga), de acordo com o qual o cidadão "deve ser forçado a ser livre"! (Quiconque<br />

refusera d'obéir à la volonté générale y sera contraint, par tout le corps: ce qui ne signifie<br />

autre chose sinon qu'on le forcera d'être libre.") Não é de surpreender que, do mesmo<br />

modo como Hegel, tenha também Robespierre admirado essa tese, o que constitui o motivo<br />

por que deve Jean-Jacques ser considerado não apenas o Profeta da democracia, mas o<br />

promotor do Estado totalitário moderno.<br />

Contrariamente ao arrazoado de alguns dos admiradores de Rousseau, nenhuma<br />

constituição liberal força qualquer pessoa a ser livre. Não força nem mesmo a ser eleitor. É<br />

nas democracias totalitárias que assistimos a "liberdade" ser constantemente usada como<br />

um slogan opressivo de propaganda. O princípio de Rousseau configura um mero jogo de<br />

palavras. E, precisamente, porque ele apreciava tais dispositivos sofisticados é que pode ser<br />

considerado um dos precursores das técnicas modernas de propaganda e patrulhamento. Se<br />

é verdade que qualquer regime democrático poderia argumentar com essa tese (tal como<br />

costumava ser feito no Brasil) para perseguir e eliminar os partidos extremistas que lhe<br />

ameacem a existência — também é certo que, nos caminhos tortuosos da especulação de<br />

Jean-Jacques, o contrato social democrático é dialeticamente levado a transformar-se numa<br />

Ditadura Popular. Tanto a França terrorista dos jacobinos de 1793, quanto a Alemanha<br />

nazista, a Rússia soviética, a Argentina peronista e o Brasil de Getúlio Vargas pretenderam,<br />

de fato, constituir democracias e representar a Vontade Geral. Todos eles anunciaram o<br />

apoio unânime de seus cidadãos. Os ditadores demagógicos, quaisquer que tenham sido as<br />

suas verdadeiras convicções, seus títulos, seus cargos, as cores de suas camisas ou os gestos<br />

de suas mãos, sempre agiram e falaram como se sinceramente acreditassem estar<br />

combatendo pela liberdade de seus povos e defendendo, heroicamente, sua Vontade<br />

soberana. Hitler, como Reichskansler, obteve maiorias estrondosas nas eleições que o<br />

elevaram e mantiveram no poder, em nome da Liberdade do povo alemão. Perón, Getúlio<br />

Vargas, Nasser, Fidel Castro, Gadafi, Jaruzelski, Pol Pot e o marechal-de-campo Idi-Amin<br />

Dadá também nunca duvidaram de estar cumprindo a Vontade do povo na imposição de<br />

uma autoridade que o "forçava" a ser livre e lhe impunha, tiranicamente, a "felicidade<br />

pública".<br />

Em suas violentas diatribes contra a revolução francesa — cuja culpa punha<br />

corretamente sobre os ombros de Rousseau — Burke ofereceu-nos um quadro bastante<br />

claro do processo. As paixões das multidões são, em primeiro lugar, excitadas e seu<br />

85

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!