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O Dinossauro - Ordem Livre

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Hobbes foi outro que se referiu ao assunto. Na realidade sua consideração do<br />

Dominium ou "Monarquia Patrimonial", na obra de 1650 Elements of Law, Natural and<br />

Politic, representa a primeira vez que o termo patrimonialismo é usado no sentido em que<br />

aqui o empregamos. O Dominium é criado, segundo Hobbes, pela conquista e submissão da<br />

população, a qual aceita a total soberania patrimonial "por medo da morte". Distingue-se,<br />

por conseguinte, da Commonwealth (República) que é espontaneamente formada pelos<br />

cidadãos, por consentimento mútuo, tendo em vista a defesa coletiva contra inimigos<br />

externos. Está claro, portanto, que Hobbes separa o Dominium, isto é, o Estado absolutista e<br />

patrimonialista imposto pela força, da República formada através de um Contrato Social.<br />

Seria em Weber, entretanto, que o conceito de Estado patrimonial adquire sua expressão<br />

perfeita.<br />

Nesse sistema, poderes particulares e as vantagens econômicas correspondentes<br />

são "apropriadas", isto é, tornam-se propriedade particular do Chefe. Weber discute com<br />

certo pormenor a maneira como se processa essa "apropriação". Vemos, no caso do Brasil,<br />

que a descrição se enquadra com bastante exatidão no que ocorre em nosso regime<br />

clientelista — tal como é abordado, por exemplo, em Bases do autoritarismo brasileiro, de<br />

Simon Schwartzan; Coronelismo, enxada e voto, de Victor Nunes Leal; Os donos do poder,<br />

de Faoro; e nos trabalhos mais recentes de Antônio Paim, Ricardo Vélez Rodríguez e<br />

Ubiratan Borges de Macedo. Paim assinala que o adequado entendimento do "momento<br />

pombalino" é essencial ao exame mais atento dos aspectos doutrinários assumidos pelo que<br />

chama "ideologia patrimonialista". Vélez Rodríguez, por outro lado, enfatiza a influência do<br />

positivismo de Comte, antiliberal e pretensamente racionalizador e moralizador, na<br />

"ideologia" positivista desenvolvida por Júlio de Castilhos no Rio Grande do Sul, com<br />

influência dominante sobre todo o país graças à ditadura de Getúlio Vargas.<br />

Antônio Paim comenta também, com ironia (em "A opção totalitária", Unidade XI<br />

do Curso de introdução ao pensamento político brasileiro), o famoso dilema que tortura a<br />

mente transviada do marxista caboclo: saber se as relações de produção teriam sido, no<br />

Brasil, de caráter feudal ou de caráter escravagista. Em outras palavras, se o Brasil possuía,<br />

na época colonial, uma estrutura social correspondente à do feudalismo; ou se já se<br />

enquadrava pela exportação de açúcar e ouro, e pela importação de escravos, na estrutura<br />

do capitalismo internacional nascente. Nelson Werneck Sodré é o papa desse debate estéril.<br />

Mas convenhamos que suas encíclicas e declarações dogmáticas expedidas ex-cathedra não<br />

contribuíram para esclarecer o problema. E por uma razão muito simples — que é o<br />

problema assim mal colocado. Paim observa que "a tentativa de naturalizar a história,<br />

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